Uma colcha puxada sobre o horizonte
Da minha janela não vejo o horizonte, por isso acho sempre extraordinário estar em algum sítio que me permita ver o estado do tempo a evoluir, por oposição a sentir as suas variações repentinas. Hoje foi um desses dias e foi como assistir a uma colcha a ser puxada sobre o céu de Lisboa ao final da tarde. Num minuto, estávamos em agosto, no outro já em novembro. E eu gostei, claro. Sou do outono e da primavera.
Também gosto do verão, só que apenas até certo ponto. Depois dos 30 graus, tudo se complica, como sabemos demasiado bem (para as pessoas, para os incêndios florestais, para a seca e vida em geral). Só o confesso aqui, mas estou muito grato por o verão de Lisboa e arredores ter sido mais ameno este ano. Houve dias e noites abrasadoras, claro, mas foram poucos, e raramente consecutivos, os episódios de calor intenso. Permitiu-me realizar mais coisas do que poderia de outra maneira, ainda que isso signifique que não possa culpar o calor por tudo aquilo que ficou por fazer nos meus projetos pessoais..
Ainda no tema da meteorologia, vale a pena também puxar para aqui um excerto de uma crónica do Miguel Esteves Cardoso que só li hoje (é uma vantagem de só ler jornais com dias ou semanas de atraso, há sempre uma crónica do MEC para ler), e que versa precisamente sobre o verão (bom, na realidade, a crónica é sobre o mês de junho, mas destaco outra parte do texto). Deixo-vos com a parte final, muito certeira, como sempre que o MEC decide abordar o clima português (embora tenha de discordar dele quando defende que junho "é o mês mais bonito do ano"):
"Nos países rigorosamente menos imperfeitos, como é o caso de Portugal, o calor e o frio não são sentenças : são coisas que se procuram. e que se encontram sem ter de percorrer grandes distâncias. E, sobretudo, pode-se fugir do calor e do frio, para sítios onde está menos calor e menos frio e que, extraordinariamente, não são menos bonitos. (...) Num país com centenas de estações de ano, é giro fingir que só temos quatro."