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horizonte artificial

ideias e achados.

Um sinal de paz na pauta da cidade

Ontem, vi uma reportagem sobre o fluxo de refugiados ucranianos a chegar à estação de comboios de Badajoz, ponto a partir do qual algumas dezenas continuam a sua viagem até Portugal num comboio da Linha do Leste da CP. Estive ali em meados de fevereiro, quando Badajoz parecia ser o sítio no mundo mais afastado de uma guerra (bom, e de tudo o resto, dada a pacatez da região). Apesar de se tratar de uma estação moderna (e servida, no lado espanhol, por comboios modernos), pareceu-me mais pequena e menos movimentada que algumas das estações suburbanas de Lisboa. Hoje, a crise humanitária posta em marcha pela guerra (que já deslocou milhões de ucranianos), já está à vista ali, que é praticamente, dada a proximidade da fronteira portuguesa, um aqui.

Os sinais da guerra estão por todo o lado, portanto, mas os da paz também. O mais impressionante deles, até agora, surpreendeu-me o olhar há poucos dias, e também envolve a ferrovia. Na realidade, é muito difícil não dar por ele: trata-se de um enorme símbolo da paz, pintado em azul escuro a toda a largura do caminho-de-ferro da Linha de Sintra.

Desconheço quem pintou o símbolo clandestino, mas quem quer que tenha sido, conhece bem a zona onde o fez (escolheu pintá-lo onde é possível vê-lo de cima, a partir de uma ponte pedonal que atravessa as linhas ferroviárias) e não pensou pequeno. A dimensão do grafíti é tal que, muito provavelmente, vai ser possível avistá-lo do espaço (quando as imagens de satélite do Google Maps forem, eventualmente, atualizadas).

A ousadia e o sentido de oportunidade do símbolo (apareceu ali algures entre 6 e 8 de março), na sua localização e dimensão, impressionaram-me. Não sabíamos, mas precisávamos de um símbolo destes: anónimo, indelével, feito à escala da cidade. Universal no seu significado.

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