Trilho dos Pescadores, parte 2
A minha etapa preferida e a que faltava
No final da semana passada, tirei partido do bom tempo para completar o Trilho dos Pescadores, depois de há algumas semanas ter deixado a etapa entre Zambujeira do Mar e Odeceixe por fazer.
Como tinha três dias, decidi aproveitar a oportunidade e repetir a etapa entre Vila Nova de Milfontes e Almograve. É uma das etapas mais curtas do Trilho (15km) mas também uma das mais estimulantes, por atravessar diferentes paisagens e cenários - há praias, falésias, dunas, matos e até terrenos agrícolas. No final, chegamos a Almograve, uma pequeníssima e acolhedora localidade com tudo à mão: pousada, restaurantes e praia. Por tudo isto, passou a ser uma das minhas etapas preferidas do Trilho dos Pescadores.
No segundo dia, apanhei um táxi de Almograve para a Zambujeira do Mar e retomei o trilho onde o tinha deixado em setembro. O dia começou com uma neblina cerrada, pelo que passei a manhã a subir e descer falésias sem conseguir avistar o mar lá em baixo. Embora não tenha conseguido ver muito, fiquei com a noção de que esta tem de ser uma das etapas mais dramáticas da costa. O perfil longitudinal do percurso podia ser o de uma montanha-russa.
Ao longo do caminho, há pequenos cursos de água a precipitarem-se do topo da falésia em direção ao mar. O trilho deixa assistir a tudo isto de bem perto. É a etapa que menos me vejo a fazer em dias de chuva, devido à possibilidade de escorregar (embora tenha visto algumas pessoas contornarem os declives mais acentuados).
A recompensa, todavia, vale o esforço. A neblina dissipou a meio do dia e permitiu usufruir de uma das paisagens mais belas de todo o Trilho.
Depois de passar o assombroso porto da Azenha do Mar, que se assemelha a um estaleiro de rochedos gigantes, surge a vista única sobre a praia de Odeceixe. Observada dali, a partir do alto e de um local só alcançável a pé, a praia de Odeceixe parece ao mesmo tempo tão paradisíaca quanto inacessível.
Mais à frente, passando os campos agrícolas onde as nuvens no horizonte pareciam estar prestes a aterrar, a tabuleta com o número de telefone para táxis não engana: os 4km que se seguem, feitos na estrada que liga a praia à vila, é a parte menos recompensante do trajeto.
Uma noite em Odeceixe e o primeiro Expresso da manhã para Lisboa. Fica a vontade que o Trilho continuasse (e continua, mas num circuito de praia, que depois se junta à Rota Vicentina, que me parece menos interessante por ser feito em estrada) e o desejo de regressar mais vezes.