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horizonte artificial

ideias e achados.

Vila Nova da Barquinha no outono

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Não gosto de fazer posts com muitas fotografias corridas aqui no blog, porque me parece que não encaixa bem no formato de "postal" a que me fui habituando, mas vou abrir uma exceção para vos mostrar pela minha lente um dos meus sítios favoritos. Vila Nova da Barquinha fica a 1h30 de comboio de Lisboa e já lá tinha estado antes, só que este ano dei por mim a voltar algumas vezes e acabei por me apaixonar por esta pacata vila à beira do Tejo (com a curiosidade histórica do rio ali passar por teimoso e laborioso engenho humano). Deixo algumas fotografias da minha mais recente visita, com direito às cores outonais e, claro, bancos. Apetecia-me viver ali e poder experimentar horas de leituras em cada um deles, nas quatro estações do ano. Que sorte, poder viver num sítio assim.

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As fotografias têm o contraste um bocadinho carregado, mas prometo que é apenas para fazer justiça ao verdadeiro cenário. Se puderem, façam uma escapadinha por lá, e não deixem de experimentar (e reservar) o Loreto, um dos restaurantes a que mais gostei de voltar este ano (a luz junto ao rio, a simpatia no atendimento e o esmero dos pratos, com um toque médio-oriental) e de visitar o Borboletário Tropical de Constância (a 15 minutos de carro e, dependendo dos horários, também acessível de comboio).

PS: Já depois de publicar o post, descobri que foi destacado na homepage do SAPO. Agradeço a simpatia da equipa SAPO (da qual faço parte e a quem não pedi ou sugeri o destaque) e aproveito para recomendar um alojamento na Barquinha: os Sonetos do Tejo. Fica situado em frente ao parque (nas fotografias acima) e é de uma hospitalidade irreprensível. Se forem na altura certa, até se arriscam a levar para casa algumas tangerinas crescidas na propriedade.

Rio de pensamentos

Uma mulher jovem deitada junto ao Tejo a escrever num caderno

Maio de 2018, junto ao rio Tejo. Comecei por reparar nela devido à pose descontraída, num local frequentado por tanta gente. Assim de esguelha, podia passar por alguém deitado na praia. Só depois é que percebi o que estava a fazer e me decidi a tirar-lhe uma fotografia. Escrever em público. Quem é que ainda faz isso? Tenho dezenas de fotografias no meu arquivo de desconhecidos em diferentes poses a contemplarem o Tejo, mas há algo de diferente nesta: é o rio que parece ser o elemento em repouso. Como se estivesse a espreitar-lhe pelo ombro, curioso com os pensamentos que fluem da caneta para o papel.

EVOA

Uma visita ao maior observatório de aves no país

Um abrigo para observação de aves na margem de um dos lagos do EVOA

É quando pensamos que chegámos que a verdadeira viagem começa. Depois de passarmos Vila Franca de Xira e de sairmos da estrada alcatroada, aguarda-nos um caminho espantoso de 12 quilómetros em terra batida (e boas condições) até ao coração da Reserva Natural do Estuário do Tejo (RNET). O impulso irreprimível, para quem sai do confinamento da cidade, é parar e apreciar o espelho de água da lezíria e a vista desimpedida do horizonte em todas as direções.

O objetivo desta incursão pela campina é a visita ao maior observatório de aves do país, o EVOA (sigla para Espaço de Visitação e Observação de Aves), inaugurado em 2012, cujo centro de interpretação, isolado no horizonte, tanto pode parecer um chalé de grandes dimensões como uma nave espacial aterrada no meio da lezíria.

O edifício principal do EVOA visto à distância

A sua localização bem no interior da reserva faz do EVOA uma espécie de posto avançado da civilização. Além de apoiar as atividades relacionadas com o estudo e a conservação da RNET, o EVOA foi concebido para acolher e incentivar, de forma controlada, a curiosidade em relação à abundância e diversidade da avifauna existente na zona.

Uma visita ao EVOA inclui uma pequena exposição sobre a RNET e o acesso aos caminhos que conduzem aos três pequenos lagos artificiais ali perto. A visita guiada leva duas horas e consiste essencialmente de uma sessão de observação de aves com binóculos (emprestados pelo EVOA) a partir dos pequenos abrigos situados nas margens dos lagos.

Um papa-ratos, observado num dos lagos do EVOA

De acordo com o site do EVOA, o Estuário do Tejo é considerado uma das 10 zonas húmidas mais importantes da Europa devido às grandes quantidades de aves aquáticas migradoras que recebe. No dia da nossa visita, conseguimos observar pelo menos uma dezena de espécies de aves diferentes, sozinhas ou em bando: águias, gansos-bravos, pernilongos, abibes, piscos-de-peito-azul, entre outras, que um folheto fornecido no início da visita ajuda a identificar e registar.

Vale a pena destacar o papa-ratos (na fotografia acima), cujo avistamento entusiasmou visivelmente o nosso guia. Segundo ele, trata-se de um exemplar relativamente infrequente por aqueles lados.

Um bando de aves descansa nas águas de um dos lagos situados no EVOA

O site do EVOA permite consultar uma listagem com as 100 espécies mais avistadas naquela área. Um número surpreendente de aves, mais de 120 mil, podem passar por ali à procura de repouso e alimentação durante as épocas de migração.

A oportunidade para observar de perto tantas espécies diferentes, em tal abundância, é algo que não devem deixar escapar. Além do contacto proporcionado com a natureza, no seio de uma reserva natural, a visita revela um lado completamente diferente, relativamente intocado, do estuário do Tejo. Ao fim-de-semana, existem duas visitas guiadas, uma de manhã e outra à tarde, mas só há capacidade para um número reduzido de participantes, pelo que é aconselhável reservar com alguma antecedência.

Um abibe, um pernilongo e um bando de gansos-bravos em voo

Ao nível da fotografia, a minha maior lente (com a distância focal máxima de 200mm) não chegou para superar a distância entre nós e as aves. Mesmo dentro dos abrigos, é preciso guardar silêncio e uma certa distância dos vidros espelhados. O que pode ser visto como um obstáculo, todavia, é precisamente aquilo que permitiu que certas aves, como o papa-ratos mais acima, passassem tão perto dos abrigos, completamente alheias ao grupo de pessoas que as observavam no interior.

É no caminho até ao EVOA que se vai avistando outra espécie de fotógrafos, melhor equipados e mais determinados. Algumas das lentes que usam podem ser descritas como mini-canhões, tal é a sua distância focal (600mm ou mais). Só lentes tão grandes, e muita persistência, conseguem produzir fotografias tão detalhadas e espantosas como aquelas que o Daniel Raposo, aqui mesmo no SAPO Blogs, ou o Rui Pereira, no flickr, vão partilhando com o mundo.

O céu acima de um dos caminhos do EVOA

Uma das últimas fotografias da tarde, dos únicos aviões que se viam, naquele dia, no céu. Mais a sul, no Montijo, está prestes a receber luz verde a construção de um novo aeroporto, cujo impacto também pode vir a ser sentido na RNET.

Duas horas no EVOA foram suficientes para constatar a abundância e diversidade de aves que se sentem atraídas pela beleza e sossego daquela área. É importante apoiar a missão de quem, no EVOA, e não só, tenta manter o frágil equilíbrio de forças entre a cidade a crescer no horizonte e a natureza que procura ali refúgio.