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horizonte artificial

ideias e achados.

Uma zebra nas ruas de Abrantes

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Uma borboleta-zebra a desfrutar de um pequeno canteiro no que parecia ser a balaustrada de uma residência particular em Abrantes. Se tivesse uma casa assim, seria difícil não ficar o dia todo à janela, a espreitar a passagem destes visitantes alados. Este passeio por Abrantes deu um bilhete-postal para o SAPO Viagens, se quiserem ver o pequeno oásis que encontrei no seu topo.

Uma fotografia de 2022

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A escolha provavelmente tem de ser esta fotografia, tirada em março, de uma águia-d'asa-redonda a sobrevoar Monsanto contra um céu acastanhado pela poeira levantada do Saara. Passei os olhos pela fotografia várias vezes ao longo do ano e reconheci-a sempre imediatamente.

Como é habitual com estas aves, não se trata de uma fotografia muito pensada: já estava a chegar ao fim da minha caminhada quando me apercebi da sua presença lá no cimo. As árvores pareciam inicialmente estar a mais, mas acabaram por fazer toda a diferença. Aqueles ramos no centro da imagem lembram-me uma mão a fazer o gesto de "perfeito" com os dedos. Se não soubesse melhor, diria que o enquadramento final foi planeado, mas só pela águia.

Teoria das cores

Uma ameixeira-de-jardim em flor

Uma ameixeira-de-jardim em flor, aqui perto de casa, em meados de fevereiro.

As ameixeiras-de-jardim em flor sinalizam mais o clímax do inverno do que a chegada da primavera, e o timing não parece ser acidental. A minha teoria pessoal é de que o rosa das suas flores destaca-se mais com os céus cinzentos de fevereiro do que com os céus mais soalheiros de março. Uma vantagem competitiva em relação a outras espécies, porventura, ou uma árvore simplesmente que gosta de ter todas as atenções só para si.

Belo pouso

Uma borboleta repousa no topo de um cogumelo, em Monsanto

Depois das fotografias do ano passado, acrescentei um lembrete ao meu calendário, a recordar-me que as primeiras semanas de novembro são a altura ideal para começar a avistar cogumelos. Quando o lembrete lá surgiu no início do mês, todavia, tive de ignorá-lo, devido a um conjunto de circunstâncias. A espera, felizmente, valeu a pena. Fui matar saudades dos meus passeios por Monsanto e pareceu-me haver mais cogumelos do que na mesma altura no ano passado. Lá pelo meio, avistei esta malhadinha Lasiommata megera, a repousar em cima de um.

Ainda há tempo para fevereiro?

O que ficou esquecido em março? A pergunta surgiu-me ao pensar nos planos cancelados ou adiados, nas bagatelas que ficaram ainda mais insignificantes, nos pequenos nadas (como a bica ao balcão) que ficaram por fazer. Uma autora aqui do bairro encontrou a duração certa de março: parece ter sido um mês com os 366 dias do ano dentro.

Uma resposta possível à pergunta: fevereiro parece ter ficado esquecido. Apercebi-me disso há uns dias, ao editar as fotografias que ainda esperavam no cartão de memória da câmara. É daí que veio a ideia de fazer um post com algumas fotografias de fevereiro.

A primeira fotografia é de uma pequena encosta de Monsanto, pintalgada de violeta (Vinca major, uma planta que me farto de ver por todo o lado há anos e que só agora fui pesquisar) e amarelo (acho que se tratam de trevos-azedos, Oxalis pes-caprae, mas não tenho a certeza, porque ficaram todas desfocadas ).

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Ainda não consegui identificar esta árvore, já nem me recordo bem onde a vi em Monsanto, mas tudo nela parece dizer Primavera.

Atualização 02/05/20: Parece ser um abrunheiro (Prunus insititia L.).

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A verdadeira planta-mistério, todavia, é esta. Apareceu em força, no início do mês, à beira de praticamente todos os caminhos que percorri em Monsanto. Foi realmente espantoso ver como, numa questão de dias, tomou conta de todos os espaços não ocupados por árvores ou árbustos, lançando no ar um odor ligeiramente azedo. Tirei-lhe fotografias de todos os ângulos possíveis, mas continua a iludir uma identificação precisa (só sei dizer que parece ser da família das apiaceae).

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Sou só eu a achar que a estrelícia não é uma flor fácil de fotografar? Como uma figura de origami, se não for vista do ângulo certo, pode parecer treze coisas diferentes: um punho delicado no ar, uma jóia, um fruto exótico. Não há problema algum nisso, pelo contrário, mas sinto que escapa sempre ao meu olhar. A que olhos pretende agradar com tal exuberância? Ou que predadores precisa de enganar?

Encontrei esta grande concentração de estrelícias à entrada da Estufa Fria de Lisboa, num domingo em que passámos lá de visita. Vistas assim, com os primeiros raios de sol do dia a incidirem nas suas pétalas amarelas, parecem um bando de aves exóticas a conviverem em terra. Talvez venha daí o seu outro nome, ave do paraíso?

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Por fim, uma fotografia que, aos meus olhos de abril, me pareceu extraordinária ao sair da memória da câmara. Em primeiro plano, um grupo de pessoas sentadas na relva a desenharem uma das estátuas do jardim Gulbenkian (que foi o que atraiu a minha curiosidade no momento). Lá atrás, outras aproveitam os derradeiros raios de sol da tarde, com destaque para a leitora de chapéu branco. Apetece perguntar quem são estas pessoas, que desenham, lêem e conversam ao ar livre, totalmente abstraídas da presença umas das outras. Parece, sem mérito próprio, o famoso quadro de Georges Seurat. Parece outra era. Foi só há um mês.

Os primeiros sinais da Primavera

Por Monsanto

Uma borboleta branca da couve

Estão por todo o lado, a começar pelas asas da borboleta branca da couve (Pieris brassicae), brancas à exceção de uma pinta escura. É uma espécie que começa a ser vista por esta altura do ano.

Uma amendoeira em flor, em Monsanto

Nas amendoeiras, os sinais são botões.

Atualização 02/05/20: não se trata de uma amendoeira. Talvez uma ameixeira?

Uma acácia a florir, em Monsanto

O amarelo vivo, mas indesejável (por ser considerada, nesta zona, uma espécie infestante), de uma acácia.

Alguém a tocar uma flauta transmontana, em Monsanto

Além de sinais, também há notas musicais no ar. O senhor na fotografia aproveitou os últimos dias de sol para ensaiar, longe da cidade (e dos vizinhos), a sua flauta transmontana.

Orquídea silvestre

Por fim, o sinal mais inesperado. Li, há poucas semanas, na página de facebook do Parque Florestal de Monsanto, que já podiam ser vistas algumas orquídeas por lá. Não sabia da ocorrência de orquídeas silvestres nesta zona, mas a ideia de ter mais um desafio fotográfico à espreita foi irresistível. Não foi preciso procurar muito, pois lá estavam elas, muito pequenas e pouco vistosas, à beira de um dos trilhos que costumo percorrer. A espécie que encontrei, a Orphys Lutea, usa uma estratégia carnavalesca para assegurar a sua reprodução: as suas flores parecem-se com abelhas fêmeas para atrair polinizadores.

EVOA

Uma visita ao maior observatório de aves no país

Um abrigo para observação de aves na margem de um dos lagos do EVOA

É quando pensamos que chegámos que a verdadeira viagem começa. Depois de passarmos Vila Franca de Xira e de sairmos da estrada alcatroada, aguarda-nos um caminho espantoso de 12 quilómetros em terra batida (e boas condições) até ao coração da Reserva Natural do Estuário do Tejo (RNET). O impulso irreprimível, para quem sai do confinamento da cidade, é parar e apreciar o espelho de água da lezíria e a vista desimpedida do horizonte em todas as direções.

O objetivo desta incursão pela campina é a visita ao maior observatório de aves do país, o EVOA (sigla para Espaço de Visitação e Observação de Aves), inaugurado em 2012, cujo centro de interpretação, isolado no horizonte, tanto pode parecer um chalé de grandes dimensões como uma nave espacial aterrada no meio da lezíria.

O edifício principal do EVOA visto à distância

A sua localização bem no interior da reserva faz do EVOA uma espécie de posto avançado da civilização. Além de apoiar as atividades relacionadas com o estudo e a conservação da RNET, o EVOA foi concebido para acolher e incentivar, de forma controlada, a curiosidade em relação à abundância e diversidade da avifauna existente na zona.

Uma visita ao EVOA inclui uma pequena exposição sobre a RNET e o acesso aos caminhos que conduzem aos três pequenos lagos artificiais ali perto. A visita guiada leva duas horas e consiste essencialmente de uma sessão de observação de aves com binóculos (emprestados pelo EVOA) a partir dos pequenos abrigos situados nas margens dos lagos.

Um papa-ratos, observado num dos lagos do EVOA

De acordo com o site do EVOA, o Estuário do Tejo é considerado uma das 10 zonas húmidas mais importantes da Europa devido às grandes quantidades de aves aquáticas migradoras que recebe. No dia da nossa visita, conseguimos observar pelo menos uma dezena de espécies de aves diferentes, sozinhas ou em bando: águias, gansos-bravos, pernilongos, abibes, piscos-de-peito-azul, entre outras, que um folheto fornecido no início da visita ajuda a identificar e registar.

Vale a pena destacar o papa-ratos (na fotografia acima), cujo avistamento entusiasmou visivelmente o nosso guia. Segundo ele, trata-se de um exemplar relativamente infrequente por aqueles lados.

Um bando de aves descansa nas águas de um dos lagos situados no EVOA

O site do EVOA permite consultar uma listagem com as 100 espécies mais avistadas naquela área. Um número surpreendente de aves, mais de 120 mil, podem passar por ali à procura de repouso e alimentação durante as épocas de migração.

A oportunidade para observar de perto tantas espécies diferentes, em tal abundância, é algo que não devem deixar escapar. Além do contacto proporcionado com a natureza, no seio de uma reserva natural, a visita revela um lado completamente diferente, relativamente intocado, do estuário do Tejo. Ao fim-de-semana, existem duas visitas guiadas, uma de manhã e outra à tarde, mas só há capacidade para um número reduzido de participantes, pelo que é aconselhável reservar com alguma antecedência.

Um abibe, um pernilongo e um bando de gansos-bravos em voo

Ao nível da fotografia, a minha maior lente (com a distância focal máxima de 200mm) não chegou para superar a distância entre nós e as aves. Mesmo dentro dos abrigos, é preciso guardar silêncio e uma certa distância dos vidros espelhados. O que pode ser visto como um obstáculo, todavia, é precisamente aquilo que permitiu que certas aves, como o papa-ratos mais acima, passassem tão perto dos abrigos, completamente alheias ao grupo de pessoas que as observavam no interior.

É no caminho até ao EVOA que se vai avistando outra espécie de fotógrafos, melhor equipados e mais determinados. Algumas das lentes que usam podem ser descritas como mini-canhões, tal é a sua distância focal (600mm ou mais). Só lentes tão grandes, e muita persistência, conseguem produzir fotografias tão detalhadas e espantosas como aquelas que o Daniel Raposo, aqui mesmo no SAPO Blogs, ou o Rui Pereira, no flickr, vão partilhando com o mundo.

O céu acima de um dos caminhos do EVOA

Uma das últimas fotografias da tarde, dos únicos aviões que se viam, naquele dia, no céu. Mais a sul, no Montijo, está prestes a receber luz verde a construção de um novo aeroporto, cujo impacto também pode vir a ser sentido na RNET.

Duas horas no EVOA foram suficientes para constatar a abundância e diversidade de aves que se sentem atraídas pela beleza e sossego daquela área. É importante apoiar a missão de quem, no EVOA, e não só, tenta manter o frágil equilíbrio de forças entre a cidade a crescer no horizonte e a natureza que procura ali refúgio.

Os medronheiros de Monsanto

Medronheiros

Não sei quase nada sobre medronheiros, mas é uma árvore que associo às minhas longínquas férias de verão no interior algarvio, onde abundam. É por isso que foi surpreendente reencontrá-los, agora em Lisboa, em muitos pontos do Parque Florestal de Monsanto.

Medronheiros

Imagino que o medronho seja um prémio para qualquer entusiasta da fotografia de natureza, pela forma como pontua de vermelho o tapete verde e acastanhado de uma floresta no outono.

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