Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

horizonte artificial

ideias e achados.

Uma fotografia de 2022

03-2022-DSC_5584.jpg

A escolha provavelmente tem de ser esta fotografia, tirada em março, de uma águia-d'asa-redonda a sobrevoar Monsanto contra um céu acastanhado pela poeira levantada do Saara. Passei os olhos pela fotografia várias vezes ao longo do ano e reconheci-a sempre imediatamente.

Como é habitual com estas aves, não se trata de uma fotografia muito pensada: já estava a chegar ao fim da minha caminhada quando me apercebi da sua presença lá no cimo. As árvores pareciam inicialmente estar a mais, mas acabaram por fazer toda a diferença. Aqueles ramos no centro da imagem lembram-me uma mão a fazer o gesto de "perfeito" com os dedos. Se não soubesse melhor, diria que o enquadramento final foi planeado, mas só pela águia.

Belo pouso

Uma borboleta repousa no topo de um cogumelo, em Monsanto

Depois das fotografias do ano passado, acrescentei um lembrete ao meu calendário, a recordar-me que as primeiras semanas de novembro são a altura ideal para começar a avistar cogumelos. Quando o lembrete lá surgiu no início do mês, todavia, tive de ignorá-lo, devido a um conjunto de circunstâncias. A espera, felizmente, valeu a pena. Fui matar saudades dos meus passeios por Monsanto e pareceu-me haver mais cogumelos do que na mesma altura no ano passado. Lá pelo meio, avistei esta malhadinha Lasiommata megera, a repousar em cima de um.

Ainda há tempo para fevereiro?

O que ficou esquecido em março? A pergunta surgiu-me ao pensar nos planos cancelados ou adiados, nas bagatelas que ficaram ainda mais insignificantes, nos pequenos nadas (como a bica ao balcão) que ficaram por fazer. Uma autora aqui do bairro encontrou a duração certa de março: parece ter sido um mês com os 366 dias do ano dentro.

Uma resposta possível à pergunta: fevereiro parece ter ficado esquecido. Apercebi-me disso há uns dias, ao editar as fotografias que ainda esperavam no cartão de memória da câmara. É daí que veio a ideia de fazer um post com algumas fotografias de fevereiro.

A primeira fotografia é de uma pequena encosta de Monsanto, pintalgada de violeta (Vinca major, uma planta que me farto de ver por todo o lado há anos e que só agora fui pesquisar) e amarelo (acho que se tratam de trevos-azedos, Oxalis pes-caprae, mas não tenho a certeza, porque ficaram todas desfocadas ).

pedron18-8647.jpg

Ainda não consegui identificar esta árvore, já nem me recordo bem onde a vi em Monsanto, mas tudo nela parece dizer Primavera.

Atualização 02/05/20: Parece ser um abrunheiro (Prunus insititia L.).

pedron18-8759.jpg

A verdadeira planta-mistério, todavia, é esta. Apareceu em força, no início do mês, à beira de praticamente todos os caminhos que percorri em Monsanto. Foi realmente espantoso ver como, numa questão de dias, tomou conta de todos os espaços não ocupados por árvores ou árbustos, lançando no ar um odor ligeiramente azedo. Tirei-lhe fotografias de todos os ângulos possíveis, mas continua a iludir uma identificação precisa (só sei dizer que parece ser da família das apiaceae).

pedron18-8772.jpg

Sou só eu a achar que a estrelícia não é uma flor fácil de fotografar? Como uma figura de origami, se não for vista do ângulo certo, pode parecer treze coisas diferentes: um punho delicado no ar, uma jóia, um fruto exótico. Não há problema algum nisso, pelo contrário, mas sinto que escapa sempre ao meu olhar. A que olhos pretende agradar com tal exuberância? Ou que predadores precisa de enganar?

Encontrei esta grande concentração de estrelícias à entrada da Estufa Fria de Lisboa, num domingo em que passámos lá de visita. Vistas assim, com os primeiros raios de sol do dia a incidirem nas suas pétalas amarelas, parecem um bando de aves exóticas a conviverem em terra. Talvez venha daí o seu outro nome, ave do paraíso?

pedron18-8900.jpg

Por fim, uma fotografia que, aos meus olhos de abril, me pareceu extraordinária ao sair da memória da câmara. Em primeiro plano, um grupo de pessoas sentadas na relva a desenharem uma das estátuas do jardim Gulbenkian (que foi o que atraiu a minha curiosidade no momento). Lá atrás, outras aproveitam os derradeiros raios de sol da tarde, com destaque para a leitora de chapéu branco. Apetece perguntar quem são estas pessoas, que desenham, lêem e conversam ao ar livre, totalmente abstraídas da presença umas das outras. Parece, sem mérito próprio, o famoso quadro de Georges Seurat. Parece outra era. Foi só há um mês.

Os primeiros sinais da Primavera

Por Monsanto

Uma borboleta branca da couve

Estão por todo o lado, a começar pelas asas da borboleta branca da couve (Pieris brassicae), brancas à exceção de uma pinta escura. É uma espécie que começa a ser vista por esta altura do ano.

Uma amendoeira em flor, em Monsanto

Nas amendoeiras, os sinais são botões.

Atualização 02/05/20: não se trata de uma amendoeira. Talvez uma ameixeira?

Uma acácia a florir, em Monsanto

O amarelo vivo, mas indesejável (por ser considerada, nesta zona, uma espécie infestante), de uma acácia.

Alguém a tocar uma flauta transmontana, em Monsanto

Além de sinais, também há notas musicais no ar. O senhor na fotografia aproveitou os últimos dias de sol para ensaiar, longe da cidade (e dos vizinhos), a sua flauta transmontana.

Orquídea silvestre

Por fim, o sinal mais inesperado. Li, há poucas semanas, na página de facebook do Parque Florestal de Monsanto, que já podiam ser vistas algumas orquídeas por lá. Não sabia da ocorrência de orquídeas silvestres nesta zona, mas a ideia de ter mais um desafio fotográfico à espreita foi irresistível. Não foi preciso procurar muito, pois lá estavam elas, muito pequenas e pouco vistosas, à beira de um dos trilhos que costumo percorrer. A espécie que encontrei, a Orphys Lutea, usa uma estratégia carnavalesca para assegurar a sua reprodução: as suas flores parecem-se com abelhas fêmeas para atrair polinizadores.

Libertação

pedron18-6914.jpg

Ontem assinalou-se o dia da floresta autóctone e uma das atividades propostas pela Câmara Municipal de Lisboa foi a visita ao Centro de Recuperação de Animais Silvestres (conhecido pela sigla LxCRAS). O LxCRAS fica situado no meio de uma área vedada de Monsanto, uma das poucas que ainda não tinha tido a oportunidade de espreitar, pelo que não hesitei em inscrever-me.

Ficámos a conhecer o dia-a-dia dos veterinários, tratadores e técnicos que ajudam a tratar e reabilitar os animais selvagens ali trazidos diariamente. Só este ano já receberam mais de 1.600 animais (um número espantoso para uma equipa de 9 pessoas), na sua maioria aves, de todos os pontos do país (o centro integra uma rede nacional de centros de recuperação). Se viverem em Lisboa, por exemplo, e encontrarem um animal selvagem ferido, podem levá-lo diretamente ali (o centro só não recebe cães e gatos).

O momento alto da visita aconteceu no final, com a libertação de um peneireiro-vulgar (na fotografia acima) encontrado em Miraflores com um problema nas asas e já totalmente recuperado. O falcão parecia estar impaciente pelo fim do cativeiro forçado e demonstrou o cuidado recebido com um voo perfeito por cima das nossas cabeças.

Aproveitando o tema, a MJP teve a ideia bonita de desafiar vários autores da blogosfera a refletirem e escreverem para o seu blog sobre o significado pessoal que dão à liberdade. A MJP convidou-me a participar e o meu texto está aqui, se quiserem ler.

Os medronheiros de Monsanto

Medronheiros

Não sei quase nada sobre medronheiros, mas é uma árvore que associo às minhas longínquas férias de verão no interior algarvio, onde abundam. É por isso que foi surpreendente reencontrá-los, agora em Lisboa, em muitos pontos do Parque Florestal de Monsanto.

Medronheiros

Imagino que o medronho seja um prémio para qualquer entusiasta da fotografia de natureza, pela forma como pontua de vermelho o tapete verde e acastanhado de uma floresta no outono.

pedron18-5518-blog.jpg

Outono em Monsanto

Campainhas

Senti-me inspirado pelo blog que descobri na semana passada a partir à procura dos sinais do Outono num dos meus sítios preferidos da cidade, o Parque Florestal de Monsanto. A palete de cores e texturas que encontrei é rica e variada. Há tons de amarelo, como seria de esperar, mas também de verde, encarnado e violeta, como mostram as campainhas acima, que mais parecem turistas perdidas da Primavera.

Folha amarela

Tirei dezenas de fotografias ao longo de dois curtos passeios no sábado e no domingo. Se não fosse a constipação que me sequestrou esta semana, teria voltado mais vezes. Há ali um espetáculo íntimo de pormenores e contrastes a decorrer que recompensa o passo lento e olhar demorado.

Cogumelos junto a árvore

Já mesmo a terminar o segundo passeio, dei por mim a estranhar não ter encontrado cogumelos a crescerem. É uma floresta rodeada pela cidade, mas uma floresta mesmo assim. Bastou dar mais uns passos para descobrir estes três amigos à sombra de uma árvore. São os primeiros que alguma vez fotografei (já com muita pouca luz e alguma vegetação pelo meio) e os únicos que encontrei neste dia.