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horizonte artificial

ideias e achados.

Abril, em Lisboa

Uma mancha vermelha de flores de papoila no meio de uma colina verdejante, contra o céu azul de abril, em Lisboa.

Esta pequena colina enfeitada por papoilas foi o meu ponto alto de abril. Ia a passar não muito longe dali, quando reparei em algumas papoilas pelo canto do olho e decidi espreitar mais de perto. Seguindo um pequeno carreiro, que passa algumas das árvores que tapam o cenário a partir da rua, a vista abre-se para esta colina, um pedaço de natureza que resiste no meio da urbe. A cidade acabara de abrir mão de um dos seus segredos.

Uma ilha de Primavera

Vi há uns dias, por acaso, o filme "A colina das papoilas", de Goro Miyazaki, e fiquei rendido. É um filme de animação, onde a imaginação, claro, pode dar voos maiores, mas é uma obra-prima na forma como idealiza e pinta a presença da Primavera na história central. Apetece entrar em algumas das cenas, nem que seja para descer a abrir aquela colina de bicicleta. Ando com papoilas no pensamento desde então, apesar de continuar limitado ao meu bairro, que pouco ou nada tem em comum com o litoral japonês. O espanto pareceu mais sentido, portanto, quando regressava a casa, esta semana, por um caminho diferente, e dou de caras com o que me ocorre descrever como uma ilha de Primavera na cidade — uma pequena encosta recém-transformada em jardim, por iniciativa da junta de freguesia, cheio de papoilas (sobretudo encarnadas, mas também algumas nos tons rosa e laranja) e de uma espantosa diversidade de outras flores. É mesmo um pequeno festival de flores, tornado mais especial por surgir assim no meio urbano (fica adjacente à Segunda Circular), numa altura em que sair da cidade ainda não parece ser possível. Quem ali passa dificilmente fica indiferente à pequena mancha vermelha de papoilas e já há sinais de ser um espaço estimado por quem mora à volta. As abelhas e os shutterbugs da freguesia, pelo menos, têm ali um motivo novo para ficarem fora de si.

Uma abelha a sondar uma papoila encarnada num jardim de Lisboa

Lisboa esteve aos seus pés

Tatiana-Mosio Bongonga a atravessar a Alameda na corda bamba

Tatiana-Mosio Bongonga, ontem ao final da tarde, a atravessar a Alameda na corda bamba, perante os milhares de espetadores que vieram assistir ao seu espetáculo, "Linhas voadoras".

Aquele sorriso, que diz quase tudo, é a marca do domínio absoluto que mostrou ao longo da hora que levou a percorrer os 300 metros (aproximados) do meio da Alameda ao topo da fonte luminosa. Foi um dos feitos mais impressionantes, e carregados de tensão, que tive a sorte de poder testemunhar ao vivo. E dou-me, mesmo, muito sortudo por ter apanhado a (demasiado) discreta promoção da Câmara Municipal de Lisboa ao evento.

No final, quando a artista já estava a escassos metros do ponto de chegada, e a curta distância agigantava ainda mais o seu sorriso, momento inesquecível (que justifica chamar de genial à pessoa que idealizou a situação): a fonte luminosa, até aí desligada, ganhou vida e dela pareceu jorrar toda a água e tensão acumuladas durante aquela hora de olhos postos numa mulher de vestido de lantejoulas, sem rede e sem medo, a caminhar no céu de Lisboa.

É de momentos e feitos assim que são feitas as lendas de uma cidade. E Lisboa ontem ganhou mais uma. Bravo, Tatiana!

A cidade fala connosco: a nova estação de metro do Saldanha

De passagem pela nova, e inspirada, estação de metro do Saldanha.

 

A nova estação liga a linha vermelha à linha amarela, o centro da cidade ao Oriente. "Em mim se cruzaram finalmente todos os lados da terra", continua a ler-se no poema Rosa dos Ventos, de Almada Negreiros, autor das frases espalhadas pela estação.

 

A intervenção plástica ficou a cargo do arquitecto José Almada Negreiros.

 

"As pessoas que eu mais admiro são aquelas que nunca acabam."

 

 

Uma frase dificilmente conta tão pouco e promete tanto.

 

 

 

 

O meu comboio e a minha dica para terminar aqui.