As minhas leituras preferidas de 2024
Se fazer balanços anuais em julho não for ilegal, pelo menos parece ser, mas aqui ficam algumas das leituras que mais me marcaram em 2024.
A Montanha Viva, Nan Shepherd (Edições 70, 2022)
Imaginem gostar tanto de um sítio que conseguiam escrever um livro apenas feito das vossas impressões e memórias desse lugar. Foi isto que Nan Shepherd fez com a cordilheira montanhosa das Cairngorms, situada no norte da Escócia e que forma o maior parque natural do Reino Unido. Shepherd escreve com base naquilo que foi aprendendo e descobrindo ao fim de muitos anos de caminhadas por aquela paisagem já familiar. Não é um livro "espontâneo", daqueles que nos pode ocorrer fazer de um momento para o outro. Teve que ser "caminhado" muitas vezes até chegar ao papel. O que fez eco em mim foi essa repetição e esse regresso contínuo a um lugar.
A Prática da Natureza Selvagem, de Gary Snyder (Antígona, 2018)
Quando pensamos que todos os caminhos já foram percorridos e que já foi tudo dito sobre o tema da Natureza e a forma como a Humanidade pode encontrar o seu lugar nela, descobrimos mais um livro que nos abre novas perspetivas. Nesse sentido, é um livro revelador, que cabe na bibliografia de qualquer amante da Natureza.
A Livraria na Colina, Alba Donati
Já aqui falei deste diário de Alba Donati. Quem alguma vez sonhou ter uma livraria e/ou viver numa montanha italiana vai gostar de ler este livro. Destaca-se ainda por ser um daqueles livros que se desdobram em outras leituras: alguns dos livros que tenciono ler este ano aparecem recomendados por Donati no seu diário.
House of Cards, Michael Dobbs
Tinha visto as duas adaptações para televisão (a britânica, pela BBC, e a norte-americana, pela Netflix), por isso pensava que já sabia ao que ia, mas acabou por ser uma das leituras mais rápidas e absorventes do meu ano. A razão para as séries televisivas resultarem tão bem assenta, claramente, no livro e na mestria de Dobbs para descrever os jogos de poder da política.
Ama o precipício, Viagem à Mata Nacional do Buçaco, Susana Neves
Um ensaio histórico sobre as origens e evolução da Mata Nacional do Buçaco que se revelou uma surpresa cativante. O pequeno livro veio-me parar às mãos por acaso no trabalho e decidi lê-lo durante uma curta viagem (a trabalho) à Terceira (um lugar que não esperava ficar a conhecer em 2024 e ao qual gostaria de voltar um dia). Tendo em conta que partilham o mesmo leitor num curto espaço de tempo, é inevitável fazer um paralelo entre o livro de Susana Neves e aquele acima de Nan Shepherd. O registo das duas obras é muito diferente, mas reduzidos ao seu essencial, tratam da mesma coisa: da forma como os lugares nos podem fascinar.
Alves & C.ª, Eça de Queirós
Gostei muito desta pequena história de Eça, sobretudo pelos vislumbres de Lisboa que vão aparecendo nas entrelinhas. O sentido de humor retorcido é outro ponto a favor.
