Estamos em 2023 e quando pensamos que já não é possível encontrar um blog que trate um tema ou situação absolutamente nova, descobrimos o brr, um diário mantido a partir de um dos locais mais remotos do planeta, a Antártida.
O autor é um engenheiro informático norte-americano que está a trabalhar e viver numa das bases científicas dos EUA mais isoladas do continente gelado, a meros 100 metros do ponto que assinala o Pólo Sul. É um local tão extremo, em termos de clima e geografia, que está efetivamente cortado do mundo durante os seis meses do inverno polar. Nessa altura, entre fevereiro e outubro, a estação é mantida por uma equipa de 50 elementos entregues a si próprios, sem qualquer ligação aérea ou terrestre possível à base mais próxima (sem exceções, até para emergências médicas).
Outros já mantiveram diários a partir de sítios remotos, mas este blogger oferece um ponto de vista no qual a maioria das pessoas é capaz de se rever. Não sendo cientista, militar ou veterano deste género de trabalhos, o autor parece-se com alguém que podia ter caído ali de pára-quedas e começado a fazer perguntas sobre tudo. Ele não aprofunda a sua motivação para se ter voluntariado a passar meio ano fechado no Pólo Sul, mas imagino que não é algo que se faça de ânimo leve.
Os posts são esporádicos, mas muito completos (sem serem técnicos ou fastidiosos no nível de detalhe) na forma como abordam cada vertente do funcionamento e quotidiano da base. Não tenho dúvidas de que, mais cedo ou mais tarde, irá inspirar uma série (ficção, documentário, policial ou terror na neve, o que quiserem) na Netflix. Não sou argumentista, mas só de ler o blog, consigo imaginar alguns enredos que podiam ter lugar ali.
É uma experiência pela qual eu gostava de passar? Uma pandemia, e uma Jornada Mundial da Juventude depois, tenho que responder negativamente. Imagino que fosse capaz de aproveitar bem o confinamento (e vencer no Goodreads), mas passar seis meses sem ver o sol seria terrível para mim. Mesmo no verão, a ideia de não ver terra, árvores e/ou quaisquer outros seres vivos (além de humanos) durante tanto tempo é algo que me parece intolerável ao ponto de parecer uma tortura psicológica desnecessária. Esta região toca tantos extremos (a temperatura média mais baixa registada, por exemplo, chegou aos 73 graus Celsius negativos) que é difícil de acreditar que faz parte do mesmo planeta que nós.