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horizonte artificial

ideias e achados.

O ponto mais alto de Lisboa

O Luzboa é o grupo de fotografia que criei, em outubro de 2019 (parece que foi ontem!), para reunir num único local as fotografias mais deslumbrantes que encontro de Lisboa partilhadas no Flickr.

Qualquer pessoa com conta neste serviço de alojamento pode incluir ali uma ou mais fotografias de Lisboa (até um limite de 3 por mês, para convidar a escolha criteriosa e evitar excessos), mas, na maioria das vezes, sou eu a encontrá-las (usando a pesquisa do Flickr) e a convidar os seus autores a acrescentá-las ao grupo (soa a muito trabalho, mas acontece tudo magicamente com dois cliques, sem explicações necessárias).

É sempre bom ser surpreendido pela inclusão espontânea de uma fotografia por alguém que gostou do grupo (e do nível médio da qualidade das fotografias ali expostas), mas não me importo nada que a iniciativa parta quase sempre de mim. O Luzboa acaba por ser o meu álbum virtual de todas as fotografias incríveis de Lisboa que são partilhadas no Flickr — e já vamos em 1.744 fotografias. É uma das minhas mais surpreendentes e bonitas janelas para a vida (e luz!) desta cidade.

Surpreendente porque reúne perspetivas e pontos de vista de muita gente diferente, com interesses, roteiros e olhares muito diferentes. E bonita porque, na maioria das vezes, mostra a cidade à sua melhor luz. Não é um grupo para ver a miséria, degradação e poluição que afligem, cada vez mais, as nossas ruas. Não viro o olhar a tudo isso, mas não foi o que inspirou a criação deste cantinho da internet. É de outra coisa que estamos ali à procura e a tentar captar e fixar nas nossas imagens. É uma qualidade qualquer, intangível e indizível, que faz de Lisboa um sítio único. No fundo, aquilo que torna qualquer lugar único.

É o meu projeto pessoal mais bem sucedido e aquele a que volto todos os dias. Não me faz mais rico nem bonito, mas não sei de outro espaço virtual que reúna tantos olhares diferentes da luz de Lisboa. Isso é um motivo meu de orgulho e uma das razões pelas quais a cidade me parece um pouco "mais minha" do que aos meus vizinhos. Já me deslumbrei e arrepiei com muitas fotografias ali partilhadas e isso, no meu dia-a-dia, tem um valor incalculável. Poder ver Lisboa a partir dos olhares de tanta gente, de tantas horas e tantos lugares diferentes (que eu não poderia ocupar, mesmo que vivesse 10 vezes) é algo com o qual os seus poetas e apaixonados de outrora só podiam sonhar. Olhar um lugar no mundo também é vivê-lo e podemos fazê-lo de formas que nem há 30 anos pareciam impossíveis de prever — uma fonte interminável de fascínio para mim.

Por fim, se a ideia de "projeto pessoal" vos disser algo, eis o meu conselho: comecem agora. Não contem a ninguém, brinquem com a ideia e divirtam-se, mas comecem hoje.

Fotografias com vida própria

Beneficio há muitos anos da generosidade de quem partilha as suas fotografias na internet sob uma licença Creative Commons, que permite a outros que façam uma utilização livre e criativa desses trabalhos. A minha principal fonte para imagens de licença livre (ainda que sob algumas condições, como a atribuição do autor, por exemplo) é o Flickr. É lá que encontro, normalmente, as fotografias mais originais e atmosféricas dos temas ou lugares a que preciso de associar uma fotografia. Por atmosféricas, refiro-me a registos de um local ou tema que imagino uma pessoa atenta a fazer em circunstâncias mundanas, por oposição às fotografias que foram feitas para passarem por representações ideais (ou dito de outro modo, postais de verão) dos mesmos sítios do costume. O Flickr (ainda) é um ótimo sítio para admirar a beleza do mundo a qualquer hora do dia sem precisar de viajar. Quando criei a minha conta lá, prometi a mim mesmo que disponibilizaria a maioria das minhas fotografias sob a mesma licença que abrange tantas das fotografias que já me "salvaram" o dia no trabalho ou num projeto pessoal.

Ocorreu-me recentemente fazer uma pesquisa no Google pelo meu nome de utilizador no Flickr, para ver se alguém já teria usado as minhas fotografias da mesma maneira, e os meus olhos abriram-se de espanto pelas coisitas que fui encontrando. A maioria dos resultados diz respeito a páginas na Wikipédia (que depende, naturalmente, de fotografias sem restrições de uso para ilustrar os seus artigos). Tenho fotografias minhas por lá a aparecerem um pouco por todo o lado, da página dedicada ao Cais das Colunas (a minha é fácil de encontrar, pois é a única, aparentemente, tirada ao pôr-do-sol) a uma fotografia do meu sapato para ilustrar, entre outros artigos estapafúrdios, o jardim da Gulbenkian.

O resultado que mais me aqueceu o coração, porém, surgiu no Youtube, e diz respeito ao vídeo de um artista português conhecido por Delectatio que produz música ambiental e usou uma fotografia minha da ponte 25 de abril para ilustrar uma das suas composições. A música intitula-se With you e admito que a pus a tocar a medo, com receio de não gostar e assim não ter muito para mostrar pela forma como as minhas fotografias ganham vida própria. Acontece que gostei e alegrou-me ver algo capturado por mim a ajudar a apresentar ao mundo a criação de outra pessoa.

Como comecei por dizer, há anos que faço uma utilização similar das fotografias dos outros. Não devia ser surpresa encontrar as minhas a serem usadas da mesma maneira, mas continua a ser surpreendente e maravilhoso confirmar que algumas das minhas imagens encontraram um uso novo e, em alguns casos, bonito. E vão continuar a encontrar, quem sabe por quanto tempo mais. Este é o melhor argumento que posso oferecer a fotógrafos amadores como eu que, infelizmente, continuam a embotar as suas imagens com marcas d'água e, ao restringir o seu uso, a condená-las, para todos os efeitos, ao escuro da gaveta.