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horizonte artificial

ideias e achados.

Onde é que este blog anda?

Resposta direta: pelo SAPO Viagens, onde estou a dar uma mãozinha e a minha experiência até agora pode ser resumida num texto, aqui.

Adorei a viagem, amei escrever o texto. O meu próprio interesse por comboios, o deslumbramento com as paisagens do Tejo (o rio da minha aldeia, para citar Pessoa) e a descontração da tarefa fizeram com que este praticamente se escrevesse a si próprio. Não tirei notas ao longo da viagem, por isso, na hora de escrever, limitei-me a "bater umas bolas" com a memória e as ideias lá retidas.

Já tinha qualquer coisa escrita, quando voltei a escutar, do nada, os comentários soltos dos restantes passageiros à minha volta nesse dia. A exclamação sobre o Intercidades, por exemplo, fez-me levar o texto numa direção nova até aí e serviu de base para a ideia central que tentei passar: a experiência de viajar neste comboio histórico é completamente diferente daquela que um comboio normal na mesma linha pode proporcionar.

O relato da viagem estava praticamente terminado, só faltando um título para fechar o artigo, quando me chegou, finalmente, o eco da palavra "descapotável", pronunciada ainda a bordo do comboio por alguém nas minhas imediações. Não trazia nenhum contexto, nem autoria (consigo recordar-me da voz de um homem, mas nada mais). Era apenas uma palavra a aterrar-me aos pés, com a imagem de que precisava para completar a ilustração da diferença que representa, poder abrir uma janela e espreitar para fora da carruagem, viajar de cabelo ao vento e sorriso na cara.

Não é um texto fabuloso nem nada parecido, mas sei que seria metade do texto que acabou publicado, se não me tivesse recordado, no momento certo, dessas palavras à minha volta. Que brisa as soprou na minha direção? Na dúvida, vou passar a fazer como no BeiraTejo (o nome que também prefiro), e deixar sempre uma janela aberta.

Um sinal de paz na pauta da cidade

Ontem, vi uma reportagem sobre o fluxo de refugiados ucranianos a chegar à estação de comboios de Badajoz, ponto a partir do qual algumas dezenas continuam a sua viagem até Portugal num comboio da Linha do Leste da CP. Estive ali em meados de fevereiro, quando Badajoz parecia ser o sítio no mundo mais afastado de uma guerra (bom, e de tudo o resto, dada a pacatez da região). Apesar de se tratar de uma estação moderna (e servida, no lado espanhol, por comboios modernos), pareceu-me mais pequena e menos movimentada que algumas das estações suburbanas de Lisboa. Hoje, a crise humanitária posta em marcha pela guerra (que já deslocou milhões de ucranianos), já está à vista ali, que é praticamente, dada a proximidade da fronteira portuguesa, um aqui.

Os sinais da guerra estão por todo o lado, portanto, mas os da paz também. O mais impressionante deles, até agora, surpreendeu-me o olhar há poucos dias, e também envolve a ferrovia. Na realidade, é muito difícil não dar por ele: trata-se de um enorme símbolo da paz, pintado em azul escuro a toda a largura do caminho-de-ferro da Linha de Sintra.

Desconheço quem pintou o símbolo clandestino, mas quem quer que tenha sido, conhece bem a zona onde o fez (escolheu pintá-lo onde é possível vê-lo de cima, a partir de uma ponte pedonal que atravessa as linhas ferroviárias) e não pensou pequeno. A dimensão do grafíti é tal que, muito provavelmente, vai ser possível avistá-lo do espaço (quando as imagens de satélite do Google Maps forem, eventualmente, atualizadas).

A ousadia e o sentido de oportunidade do símbolo (apareceu ali algures entre 6 e 8 de março), na sua localização e dimensão, impressionaram-me. Não sabíamos, mas precisávamos de um símbolo destes: anónimo, indelével, feito à escala da cidade. Universal no seu significado.