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horizonte artificial

ideias e achados.

i am i am i am

Só tenho que me perguntar "qual foi a coisa que mais me inspirou nos últimos tempos?" para conseguir um post. E este é todinho dedicado ao i,i, o mais recente álbum dos Bon Iver, de quem não falava aqui há muito tempo e que, admito, deixei de ouvir nos últimos anos.

A mim, este i,i parece uma espécie de reencontro com um grande amigo que mudou de país, fez sucesso e, de repente, encontramos sentado no sítio habitual lá no bairro. E, sim, notamos as roupas novas, o estilo mais trabalhado (ainda que ilusoriamente mais descontraído), mas também um brilho diferente nos olhos. É o brilho de quem sabe que se tropeçar na guitarra, e estiver a gravar, até isso pode dar um grande som na próxima canção. É o som da auto-confiança.

Fui à procura de alguns textos sobre este novo álbum, com o objetivo de descodificá-lo um pouco mais, mas o consenso parece ser que se trata de um emaranhado de sinais, trocadilhos e influências sonoras sem um propósito bem definido. É aqui que as críticas se dividem, entre quem parece achar que isso chega, e outros não. Eu acho que chega.

Passei algumas tardes das últimas semanas a ouvi-lo, non-stop, e embora me seja difícil isolar as minhas preferidas, deixo aqui um quarteto instável: We, Naeeem, Faith e Salem.

Foi um bom reencontro.

Bon Iver no Campo Pequeno

Nuno Galopim, no DN, sobre o concerto de ontem à noite de Bon Iver:

O concerto soube caminhar entre momentos de maior intensidade elétrica e etapas de mais evidente exposição da tão característica voz de Justin Vernon (que é decididamente mais um músico que um comunicador de massas). E conduziu-nos até ao momento de clímax que se desenhou quando Calgary e o absolutamente inspirado Beth/Rest (em versão arrebatadora) que fecharam o alinhamento como um bom livro sabe colocar o ponto final.

E eu não estive lá.

bon iver

Posso voltar atrás? E dizer o quão especial é aquele vídeo ali abaixo, de uma sessão musical ao vivo entre Justin Vernon e Sean Carey (que, ja agora, tem um álbum a solo, intitulado "All we grow", que recomendo)?

Estava a ver o vídeo ontem pela terceira ou quarta vez e comecei a pensar no que torna a música de bon iver tão especial. Por que é que aqueles acordes e falsettos se repercutem tão bem cá dentro?

Existe algo comparável entre a gratificação causada pela sua música e a gratificação que sentimos lá no íntimo com aquela peça de imobiliário que tem as medidas perfeitas para o nosso T0.

E a conclusão meio simplista e totalmente óbvia a que cheguei é que ela nos autoriza a ser melancólicos e tristes enquanto a ouvimos. O segredo da música bon iver reside aí, no que vai buscar à tristeza e como valida a sua autenticidade (podemos fingir e enganar-nos em relação a quase tudo, mas não dá para falsificar tristeza).

Nos três concertos a que fui de Justin Vernon, e presumo que em todos os que ele dá, ele encerrou sempre a noite obrigando a audiência a cantar em coro "What might have been lost". É algo que teve o seu efeito no primeiro concerto, quando provavelmente não éramos mais de três centenas de pessoas, e voltou a ter no segundo, quando já eram alguns milhares. Em Lisboa, foi um Coliseu de Recreios esgotado e a abarrotar a cantar este verso de "The wolves" (do primeiro álbum). Uma canção que fala de um amor perdido e da miséria causada, de uma maneira que convida mais a celebrá-la do que a evitá-la.

Colocar um Coliseu dos Recreios, ou qualquer outra sala de concertos a abarrotar, a cantar "What might have been lost" é a celebração máxima de um desgosto. É autorizá-lo a ele, e a nós, a reconhecer que algo se perdeu e que não faz mal em voltar àquela divisão mal-iluminada e vazia de recompensa que é a tristeza. Pode ser a única coisa verdadeira que resta.

bon iver

 

Desta vez foi menos intimista (o concerto foi integrado num festival da Pitchfork, que decorreu no Grande Halle de La Villette, onde couberam alguns milhares de pessoas), mas mais espetacular e trabalhado (havia alguns 10 músicos em palco, a suportar Justin Vernon). Foi um bocadinho inesperado ouvir o novo álbum (do qual não sou grande estudioso, confesso) interpretado com tanta energia e descontração - uma atuação digna de qualquer festival de música, o que reforça a esperança de vir a acontecer em solo português.