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horizonte artificial

ideias e achados.

Follow Friday #1

Há mesmo muito tempo que tenho vontade de recomendar aqui blogs. Passo boa parte do dia a olhar e destacar blogs, daí que me pareça sempre um bocadinho redundante vir aqui fazê-lo novamente. Ainda assim, acho importante valorizar quem faz parte do nosso dia-a-dia, mesmo que apenas virtualmente, pelo que recupero aqui uma prática do twitter, chamada follow friday, já caída em desuso, que envolvia sugerir à sexta-feira outros autores para seguir na plataforma.

Hoje é sexta-feira, por isso nada como agarrar a oportunidade e estrear a rubrica com um blog que já faz parte da minha lista de leituras há anos. A Alice é uma observadora nata, alguém que consegue decalcar com delicadeza os detalhes de qualquer grande imagem e passá-los à escrita. Sei muito pouco sobre si, mas revejo-me no seu deslumbramento pela natureza (espreito sempre com curiosidade, e uma pontinha de inveja, os seus "postais" de Setúbal e do estuário do Sado) e na graciosidade com que encara o quotidiano. Também vale a pena referir a beleza, e pertinência, dos poemas e escritos de terceiros que vai partilhando no seu blog.

Os tempos do Céu sobre Lisboa

E a oportunidade de reler um dos meus blogs preferidos

Em setembro, pude segurar um blog nas mãos — e um blog só pode ter o peso de um livro. Falo d'O Céu sobre Lisboa, o blog mantido pelo Pedro Ornelas entre 2003 e 2008, e que hoje só pode ser lido em livro.

Nunca cheguei a conhecer o Pedro, nem sequer a interagir consigo como leitor, mas lembro-me de ter descoberto o seu blog, logo em 2003, e de o ler de uma ponta à outra, entre o intrigado e o invejoso. Inveja, em primeiro lugar, com aquele título fabuloso, que já pinta uma aguarela na imaginação, antes do modem sequer ter tido tempo de descarregar o template. E depois, com aquele modo de escrever, direto e descontraído, de quem está dentro da cidade, mas a vê-la de fora, graças à lente da curiosidade.

O Pedro parecia sempre pronto para reparar em algo, fosse um detalhe ou cena inusitada, e em partilhar esse motivo de espanto. Os seus textos revelam alguém movido a curiosidade (divertia-se, a título de exemplo, a apanhar o primeiro comboio que estivesse a passar numa qualquer estação de comboios), com lata jornalística para espreitar tudo e travar conversa com todos. O Céu era o seu caderno de observações e curiosidades colhidas nas ruas de Lisboa, e não só. Como o Ivan Nunes explica no prefácio do livro, não se trata, todavia, do típico flâneur:

O narrador deste livro é um flâneur - mas sem inconsequência, sem diletantismo. (...) O que lhe interessa não é só a novidade, mas sobretudo a mudança, que tanto se pode encontrar em coisas novas como naquelas que guardam os traços de uma vida muito antiga.

Por tudo isto, o Céu foi um dos blogs que mais influenciou, no tom e conteúdo, a minha própria escrita nos blogs. Já em setembro de 2008, quando fiquei a saber da morte do Pedro, o admitia: o Céu era o blog que gostaria de ter feito. É por isso que senti o assalto da nostalgia (embrulhada na expetativa sobre o aspeto que um dos meus blogs preferidos teria como livro) quando soube que o blog do Pedro tinha sido resgatado do apagão eletrónico e editado como livro, por iniciativa e esforço de alguns dos seus amigos. Em setembro, pude finalmente adquirir um exemplar, diretamente das mãos da Helena Soares, a mentora do projeto e sua editora.

Para começar, é um livro muito bonito. Nota-se o esmero na sua apresentação, da belíssima capa à paginação (o design é da Silvadesigners), com os posts do Pedro vertidos para o papel tal e qual como foram publicados, sem dispensar as fotografias. A fotografia servia muitas vezes de ponto de partida para os posts do Céu, ao ponto de me fazer questionar se o Pedro hoje seria mais blogger ou instagramer. A relação entre a palavra e a imagem no Céu era, na iminência dos smartphones (e da facilidade na recolha e partilha da fotografia), curiosa e, em retrospetiva, um bocadinho à frente do seu tempo.

Por falar em tempo, a Lisboa das crónicas do Pedro não dista assim tanto da nossa e, no entanto, as duas já não coincidem exatamente. Perceber isso, identificando as diferenças, também faz parte do gosto de ler este diário lisboeta dos anos zero. Como leitor (repetente, ainda por cima) do Céu, achei especialmente surpreendente a quantidade de vezes que me cruzei com o Pedro nos mesmos locais que visitei recentemente: o Castelo de Almada, as bilobas no Jardim das Amoreiras (estamos, precisamente, na sua "época de ouro", em finais de dezembro), a Tapada da Ajuda (que só explorei este ano), são só alguns exemplos. É o tipo de encontro-desencontro que só um livro, com a sua mobilidade, pode proporcionar entre duas pessoas que, apesar de tudo, partilham a mesma cidade-paixão.

Estas ideias à volta do tempo levam-me, inevitavelmente, a pensar em tudo aquilo que o Pedro teria para ver, investigar e comentar nos últimos anos em Lisboa. O que pensaria da cidade confinada? E da cidade esvaziada pelo Airbnb (fundada, precisamente, em 2008)? E do que mudou para melhor? A Ribeira das Naus, descrita no blog, em 2005, com a sua "estação fluvial fantasma", seria um bom exemplo de algo que o Pedro teria, certamente, gostado de conhecer. Não me recordo da existência da estação, mas lembro-me de passar várias vezes pelo estaleiro de obras que ali esteve durante anos, enquanto a zona aguardava definição. Em 2021, é um dos locais obrigatórios da cidade para recuperar horizonte e desfrutar do rio.

Como ideia, este livro também é o fruto tardio, e belo, da amizade. Em 2017, os escritos do Pedro estavam prestes a desaparecer da blogosfera. Hoje, já não é possível consultar o blog no seu endereço original (motivo pelo qual não faço link aqui). Os seus amigos juntaram-se e prestaram-lhe esta derradeira homenagem, a da memória. Ler o Pedro é poder voltar a seguir-lhe os passos e acompanhar o seu olhar por uma Lisboa que ora parece continuar igual, ora mostrar-se irremediavelmente mudada. Por tudo isto, foi uma das leituras que mais me cativaram este ano. É, seguramente, um dos melhores livros sobre Lisboa publicados nos últimos anos.

A janela do envelope

Inspirados no twitter, fizemos uma ligeira alteração, esta semana, à forma como apresentamos, nas nossas listagens públicas (exemplo, a lista de posts com a tag viagens), os excertos dos posts publicados na plataforma. Trocámos a ordem do texto e da eventual fotografia (agora, o excerto começa pelo texto) e limitámos a altura da imagem, centrando-a no espaço que lhe está reservado. É uma alteração insignificante, em páginas relativamente pouco utilizadas, mas tenho dado por mim deslumbrado com a forma como algumas imagens encaixam na perfeição na "janela do envelope". É uma boa analogia, porque parte do meu dia consiste em navegar nestas páginas, e espreitar o que vai sendo publicado — no fundo, espiar correspondência alheia. Já agora, não deixem de ler o post da Ana. Se algum dia visitar Atenas, vou lembrar-me dele.

Mudar os sítios

Acho que foi num blog, mas não posso jurar, que li esta semana algo sobre como é bom encontrar um lugar no mundo para tornar melhor. Quando o li, passei à frente, abri outro separador e foi só mais tarde que a ideia começou a verrumar (sim, descobri este verbo esta semana) cá dentro. O que me impressionou, acho eu, foi a inversão de ideias. Estamos habituados a pensar na mudança de casa, na grande viagem de férias, na estadia no campo como oportunidades para sermos influenciados e mudados (pela nova vizinhança sossegada, pela cultura, pelo bom ar, etc). Raramente pensamos no inverso da medalha, em como é que nós, com a nossa presença, mudamos os sítios.

Trabalho há 12 anos com uma comunidade virtual de pessoas. E se é verdade que os blogs não salvam ninguém, também é verdade que aprendi imenso com eles durante este tempo. Saí da faculdade a aceitar e a respeitar a diferença de opinião, por exemplo, mas foi só aqui que aprendi a valorizá-la, e a reconhecer que a diversidade de perspetivas pode ser esclarecedora e estimulante. Se querem criar e manter um espaço onde pessoas com personalidades e pontos de vista diferentes se possam encontrar, sem lhes dar visibilidade, esqueçam.

Foi aqui que eu aprendi que devemos, e podemos, tentar fazer, sempre, a diferença na qualidade do discurso público e da convivência virtual, mesmo quando deparamos com a indiferença (de quem já desistiu ou não percebe que estamos sempre em posição de mudar os sítios por onde passamos). Dar visibilidade à diferença, à argumentação ou a essa coisa tão simples quanto poderosa como o elogio são alguns dos antídotos para o preconceito, desinformação e cinismo.

Estar exposto à escrita dos outros, feita de vivências e tentativas de dar sentido ao que nos acontece neste pedaço de rocha redondo, ajuda-me, por sua vez, a procurar (ênfase no procurar e não encontrar) o lado positivo de tudo o que me acontece.

A magnitude do privilégio de trabalhar com as confissões, desabafos, ideias desta malta toda só tem comparação com o tamanho da responsabilidade que existe em manter, como parte de uma equipa, um espaço seguro e aberto a quem quer criar, exprimir-se, debater e desabafar (e vão sempre existir blogs enquanto houver internet e humanos a precisarem de desabafar, vão por mim).

E, sim, isto pode só ser grandiloquência, ou uma tentativa de fazer sentido de um trabalho que consiste, essencialmente, de estar sentado a um computador 8 horas por dia. Seja isso ou não, a ideia com que abri este texto fez-me perceber como esta comunidade é um dos sítios que eu espero estar a tornar melhor por cá estar. Porque este sítio, feito de três palavrinhas separadas por dois pontos (que podia teclar de olhos fechados), já me mudou para sempre.

Fiquei a conhecer o Triptofano

Quando foi a última vez que abordaram um perfeito desconhecido na rua, para lhe dar os parabéns pelo blog? Pois é, eu também não. Mas aconteceu comigo, há uns dias, ao reconhecer o Triptofano na rua.

O Triptofano é um exemplo clássico de blog dos anos loucos da blogosfera, com uma frequência de atualização que já não se vê nos blogs desde os tempos da invasão do Iraque. A diferença é que se trata de um blog criado em 2017. Se tivesse de resumi-lo em 30 segundos diria que é uma espécie de Zomato em formato blog, com uma pitada de Revista Saúda e Casal Mistério (na versão gay). O sentido de humor, aliado à linguagem clínica de farmacêutico e aplicado à crítica de restaurantes faz dele um dos blogs mais divertidos e originais das minhas leituras diárias.

Na era das fake news e dos influenciadores, precisamos de mais gente assim, com piada, conhecimento e curiosidade pelo mundo, a lançar-se na escrita e a dizer-nos algumas verdades (a começar pelo sítio onde se pode comer a melhor pizza vegetariana de Lisboa).

blog: a casa

O blog da Leonor, que passou de hiperbólicamente falando para A Casa. É um dos tais blogs que não subscrevo por RSS, e hoje, ao voltar lá, foi como voltar a abrir a caixa de correio no regresso de férias e descobrir um montão de novidades (sobretudo cartas brancas com selos e carimbos distantes e envelopes castanhos almofadados, cheios de promessa). Cheio de promessa é uma boa descrição do blog (e trabalho) da Leonor.

blogs: Anabela Mota Ribeiro

 

Ajudei a lançar o blog da jornalista Anabela Mota Ribeiro, mas destaco-o aqui sobretudo pelo conteúdo, feito das suas entrevistas a algumas das figuras mais marcantes da atualidade nacional. Joe Berardo, Ricardo Araújo Pereira, Joana Vasconcelos, são algumas das que já li, mas o crescente arquivo do blog está repleto de gente interessante. A de Joe Berardo, em particular, é notável pela opção da Anabela em passar para o registo escrito da entrevista a forma de falar de Berardo, "sem frases arredondadas ou português corrigido". É o tipo de coisa que está ao alcance de poucos entrevistadores fazer e que ao mesmo tempo diz muito sobre o estilo conversacional e descontraído das suas entrevistas. O polémico "palhaço" de Miguel Sousa Tavares surgiu no decorrer da sua entrevista à Anabela e depois de ficar a conhecê-la, durante a construção do blog, consigo entender porquê. Pude ver em primeira mão como a sua descontração (que desarma qualquer um), a par da caneta e caderno, são as suas principais ferramentas de trabalho.

cinco: razões para continuar a ler blogs em 2013

Imprensa Falsa

O blog que cai mais certeira e rapidamente em cima do acontecimento. E é uma "operação" de uma só pessoa. Em termos de humor e produtividade, imbatível.

 

Fora de Série

No mundo dos blogs oficiais das publicações tradicionais é literalmente um blog fora de série. Atualizações frequentes, sem exagerar nem deixar adivinhar quando a redação vai de férias, bons textos e cuidado ao nível do design.

 

Diário de Lisboa

O fotógrafo quase oficial da cidade de Lisboa. As fotografias aqui fazem quase toda a conversa sobre o que interessa espreitar pela primeira vez ou revisitar na cidade.


Quem sai aos seus

A prova de como quando um blog é bem escrito, pode ser interessante sobre quase tudo, fraldas, bronquites e Casa dos Segredos incluídas. Não é esse certamente o objetivo da Lina, mas não deixa de ser verdade.


A restless transplant

Se estão a pensar fazer-se à estrada, sem destino nem pressas, este é o vosso blog para 2013.

blog: Qual crise?


Qual crise?/Ricardo Braz Frade

Se há blog que vale a pena acompanhar neste Outono atlântico é o Qual crise?, que está a ser atualizado todos os dias de um ponto diferente do país, à medida que o seu autor faz a volta a Portugal num GoCar.

Para alguém que dorme todas as noites num sítio novo e passa quase todo o dia encolhido num veículo de três rodas, a qualidade da sua escrita é impecável, rica em descrição e bom humor (um dos pré-requisitos, imagino, para empreender uma aventura destas). Não conheço o Ricardo e não faço ideia do que faz na vida (apesar do blog ter sido personalizado com a ajuda do SAPO, tendo o design ficado a cargo da Claudia), mas depois desta viagem pode muito bem considerar arriscar outra ao nível da escrita.

Todos os dias tenho aprendido alguma coisa nova sobre os lugares por onde vai passando (em relação aos quais parece ter feito algum trabalho de casa) e a cada dia fico com mais vontade de copiar o exemplo e partir estrada fora (ainda que não necessariamente de GoCar). As observações que faz sobre cada sítio, assim como o registo dos diálogos que vai encetando com os locais, tornam este diário de estrada especialmente português e cativante.

E depois há a questão do GoCar, que dá um ar quixotesco (na aceção sonhadora e humilde do termo) a toda a aventura. A escolha de veículo adiciona um elemento de humor e expetativa (será que o "Dinis" aguenta tanta estrada?) a uma viagem que, de outro modo, tenderia a ser um pouco mais previsível e menos colorida. E menos histórica, claro, ou o Ricardo e o "Dinis" não fossem o primeiro binómio homem-GoCar a tentar completar uma volta a Portugal..

blogs: daring fireball

O meu blog favorito (ao ponto de ter um atalho direto para o blog no ecrã principal do meu iPod) fez ontem 10 anos. Falo do Daring Fireball, assinado por John Gruber, que comecei a acompanhar há coisa de 2 ou 3 anos, por dica de um colega.

 

Gruber é um entusiasta de tudo o que a Apple faz, sem prescindir de um sentido crítico apurado e justo, e o seu blog é quase exclusivamente dedicado às novidades, notícias e rumores que envolvem a empresa norte-americana.

 

O nível da ironia, e o calibre do sarcasmo com que Gruber faz pontaria aos críticos da Apple, é uma das coisas que valem a pena neste blog (revisitar e parodiar em lume brando as previsões pessimistas que foram feitas, aquando do seu lançamento, sobre o iPhone e iPad é um dos seus desportos favoritos), sobretudo para quem não resiste ao "allure" da marca. Só que a desmistificação e a paródia são só aperitivos. Quem quiser compreender um pouco melhor as razões do sucesso atual da Apple tem no Daring Fireball um bom ponto de partida para perceber a forma de pensar e agir da empresa, vista aqui através da perspetiva de um consumidor.

 

De resto, essa perspetiva parece-me interessante na medida em que permite tirar algumas lições sobre design, internet (as principais tendências na internet neste momento parecem ter sido todas impulsionadas por decisões estratégicas inerentes a produtos da Apple) e jornalismo (ele está para o jornalismo tecnológico como o Jon Stewart está para a Fox News).