O meu take sobre o fenómeno literário do ano
Mesmo antes de ser publicado, A Rapariga no Comboio, de Paula Hawkins (editado em Portugal pela TopSeller), já tinha batido recordes no Goodreads e, pelo que tenho visto em primeira mão no SAPO, é um dos livros mais comentados nos blogs. A minha curiosidade, portanto, já estava em alerta quando a Vanita publicou a sua opinião sobre o livro e convenceu-me a dar-lhe uma oportunidade. Mais até do que a minha curiosidade, era o meu ceticismo em relação aos chamados fenómenos literários que exigia uma confirmação.
E vou já começar com a admissão: fui apanhado de surpresa pelo fim. Muita boa gente, com certeza mais atenta do que eu, garante ter topado tudo a páginas de distância do fim, mas o elemento de surpresa é algo que não posso retirar a Hawkins, que soube baralhar bem as cartas e semear devidamente as suspeitas.
Significa isto que se trata de um bom thriller? A resposta é sim. Quem é fã do género e está à procura de um sudoku literário, provavelmente não se vai sentir defraudado.
Para um livro que está nas mãos e bocas do mundo, não deixa de surpreender as profundidades a que Hawkins lança a sua protagonista. O retrato que faz do sentimento de fracasso e desistência provocados pelo alcoolismo é vívido e convincente. Nota-se o esforço colocado no desenvolvimento psicológico da protagonista, ainda que o livro ameace esgotar-se no tema do alcoolismo, ao ponto deste servir, demasiadas vezes, para encobrir (ou criar?) alguns buracos ao nível da intriga.
No final, o leitor de policiais tem direito a confirmar ou não a sua tese. Outros tipos de leitores, todavia, terão menos por ansiar, ao nível da escrita e dos temas retratados. Se forem como eu, o mais provável é estarem a tentar não sucumbir à pressão de ler o livro que todos estão a ler. Boa sorte com isso!