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horizonte artificial

ideias e achados.

Gabinete de curiosidades

Um post em jeito de balanço de 13 anos (quase feitos) de horizonte artificial

Alguém no SAPO destacou gentilmente aqui o blog na semana passada. Não sei quem foi, mas foi um destaque especialmente simpático porque quem o fez não percebeu que este era o meu blog (e, portanto, excluído dos destaques, como deve ser). Só me apercebi disso pelo pico no número de visitas recebidas. O blog recebe muito poucas visitas por dia, mas nem por isso deixo de espreitar as Estatísticas. Sinto um certo fascínio, aparentemente inesgotável, pela ideia de saber que há outros a lerem o que aparece aqui escrito, mesmo sabendo que a maioria dos visitantes chega à procura de outra coisa qualquer e que não repete a visita. Escrever em público é escrever para um potencial leitor, e isso foi sempre indissociável da minha motivação para escrever, aqui ou em qualquer outro lado. Dito isso, não me faz qualquer diferença que este post seja lido amanhã por 2 pessoas ou 200.

O post do blog que continua a receber mais visitas, ano após ano, data de 2009 e é um pequeno elogio fotográfico à renovada estação de metro no Saldanha. O que leva tanta gente a chegar ali através de uma pesquisa no Google? Serão os ecos de Almada Negreiros nas paredes da estação a espicaçarem a curiosidade sobre o seu autor? Ou será por se tratar, presumivelmente, de uma das estações mais movimentadas da rede de metro e isso suscitar muitas dúvidas sobre deslocações à cidade? Já senti a tentação de atualizar o post e deixar a pergunta diretamente aos visitantes perdidos.

O segundo post mais visitado de sempre no blog é, não sem algum embaraço, outro post (fraquinho) meu sobre o metro de Lisboa. É do tempo em que ainda não usava o Twitter como filtro ao serviço do blog, evitando deixar aqui tudo o que fosse comentário avulso, desabafo despropositado ou motivo de irritação. Já não sei bem quando é que isso aconteceu, mas essa separação de águas foi muito intencional. Quis que o blog fosse realmente o meu caderno de escrita e que refletisse apenas aquilo que move a minha atenção — e que pode merecer a valiosa atenção de outros. O Twitter tornou-se uma espécie de linklog pessoal, onde arquivo leituras interessantes e impressões menos filtradas do meu dia-a-dia. E mesmo essa utilização do Twitter foi-se alterando (e continua a alterar-se) com o tempo, para evitar as consequências do excesso de informação e do tempo passado frente a um ecrã. Seja qual for o meio ou canal de comunicação, precisa de servir o meu tempo e objetivo. No twitter, antes de publicar o que quer que seja, habituei-me a perguntar: porque estou a tweetar isto? Que diferença é que isto vai fazer a quem se cruze com isto? Vai contribuir para o azedume generalizado? Penso isto ou quero ser visto a pensá-lo?

Ao nível do blog, já não preciso de fazer esse exercício. Sei que parece um bocadinho estranho, mas já sei instintivamente quando uma obra, um passeio ou uma experiência justificam a partilha por aqui. O blog tornou-se, aos poucos, o meu gabinete de curiosidades, onde coleciono tudo o que me espanta e comove. Das poucas vezes que abri uma exceção para falar do que não me agradou, senti-me sempre incomodado, como se estivesse a perder o meu tempo com isso uma segunda vez, e o de quem me lê. Adoro ler e preparar mentalmente uma boa crítica construtiva, só não é algo em que faça sentido gastar os escassos recursos da minha escrita.

E quem é que me lê, já agora? O blog passou largos anos sem comentários, até que, após tanto tempo a ler e destacar os outros, percebi que um blog sem comentários é uma espécie de carta enviada sem remetente. Comento pouco os blogs dos outros (o destaque já é uma forma de comentário, parece-me), mas valorizo a possibilidade de deixar um sinal qualquer de reconhecimento. De acusar a receção, para esticar a analogia. Quando abri os comentários há uns anos, gostei de descobrir neles alguns colegas de trabalho e vizinhos da saposfera. Cansei-me de partilhar links para os meus posts nas redes sociais, e sinto-me muito desconfortável com a ideia de angariar (direta ou indiretamente) leitores para um espaço de escrita pessoal como este, pelo que tento passar despercebido na comunidade. Mesmo assim, a maioria dos leitores regulares (e os mais simpáticos, claro) são quase todos provenientes do SAPO (de resto, tenho 3 anónimos leitores subscritos por e-mail). Além disso, só sei que, segundo as estatísticas, a maioria dos visitantes nacionais é de Lisboa e do Porto (seguidas, mais de longe, por Amadora, Almada e Coimbra) e os internacionais (mais esporádicos) são do Brasil, EUA, e (espanto) Coreia do Sul.

Acho fantástico que seja possível aceder a uma parte da minha consciência (à melhor parte, sem dúvida) digitando apenas alguns carateres num computador, a partir de qualquer parte do mundo. Ou que seja possível chegar ao conhecimento de outra pessoa através de uma pesquisa aparentemente tão inconsequente como "frases metro saldanha" (é verídico, diz-me o Google, que hoje em dia já não revela aos publicadores, por motivos de privacidade, quase nada sobre os termos de busca usados pelos seus utilizadores). Ao fim de quase 13 anos (a completar em abril, um belo mês para começar um blog, se me permitem a imodéstia), ainda não me cansei dessa serendipidade.

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