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horizonte artificial

ideias e achados.

A medida da sorte

Uma das coisas que mais me fascinam é a sorte. Sim, a sorte. Não falo de forças divinas ou sobrenaturais. Refiro-me apenas àquilo que cada um de nós perceciona como o seu momento de sorte, por oposição a qualquer outra coisa que podia ter acontecido, habitualmente menos feliz ou proveitosa. Nos blogs, são as histórias do quotidiano que mais me deliciam e, imagino, todos aqueles que gostam de ler estes pedacinhos do nosso dia-a-dia que vamos trocando entre nós virtualmente. "Quando tudo parecia destinado a correr mal.." Gosto de ficar pendurado da expetativa criada por esta frase. Não só pelo desenlance, mas porque a preparação de toda a situação é quase sempre metade da diversão. E se pensam que isto vai conduzir a um pequeno exemplo meu, acertaram.

O meu pequeno momento de sorte, passado hoje, não é rico em detalhes explosivos e hilariantes, mas penso que ilustra bem a medida do que constitui uma "pequena vitória" para mim. Estava há pouco numa paragem de autocarros da Carris no outro lado da cidade, a derreter ao sol depois de um dia passado fechado numa camisa desconfortável, quando reparo, pelo canto do olho, na chegada ao local de um dos "maluquinhos" da carreira do autocarro que esperava. Ao fim de algum tempo a usar os transportes públicos de Lisboa, passamos a identificar à distância estes personagens, mas o de hoje já encontrei várias vezes — e nunca corre bem para ninguém, pela forma como assedia ou hostiliza os outros passageiros. Não era a viagem de 25 minutos que pretendia fazer, mas também não conseguia mais ficar ao sol e adiar o regresso a casa.

Já me preparava mentalmente para aceitar que hoje seria uma daquelas viagens, até que chegou o nosso autocarro (sabia por experiência que o senhor esperava a mesma carreira). E é aqui que entra a minha sorte de hoje. O protagonista desta mini-história tinha procurado a sombra da paragem e só se apercebeu tarde demais que tinha perdido a sua boleia. Ainda deu um pontapé no veículo (sim, um pontapé!), mas nada feito. O amarelinho da Carris já seguia caminho, com metade dos passageiros habituais a respirarem de alívio e um só pensamento a ocupar-me a mente, resumido por duas palavras: que sorte!