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horizonte artificial

ideias e achados.

22.929

O número no título é o total de fotografias que guardo feitas com a minha câmara fotográfica. É um valor que está sempre a variar: por mês, faço uma média de 200 novas fotografias e apago outras tantas à medida que vou editando as que já fiz desde 2016.

Este arquivo fotográfico é o meu pertence mais valioso, ao ponto do disco externo no qual o conservo (e outro onde faço uma cópia de segurança) ser provavelmente o primeiro objeto que agarraria se tivesse de fugir de casa só com as roupas do corpo. É o registo de horas incontáveis do meu tempo, dos meus passeios e criatividade. E não há nada mais valioso do que o tempo de que dispomos para aplicar naquilo que nos interessa e mantém ativos. Já o escrevi aqui algures antes, que a Fotografia é uma espécie de passaporte para mim, que me faz querer a ir a sítios e conhecer pessoas, e acho que o número acima reflete bem isso.

Ainda assim, não há aqui ilusões. No que diz respeito às minhas fotografias, sou um editor metódico e implacável. Catalogo e avalio (tirando partido de uma funcionalidade do Lightroom que permite pontuar cada imagem até 5 estrelas) cada uma das fotografias que faço e só 281 das 22 mil já tiradas têm a classificação máxima. Ou seja, menos de 1% do meu arquivo fotográfico é formado por imagens irrepreensíveis do ponto de vista técnico (focagem e luminosidade) e visual (algo simplesmente que me tenha chamado a atenção). Pensando em termos estatísticos: preciso de tirar 99 fotografias para conseguir uma daquelas que apetece partilhar com o mundo (no meu caso, com a internet).

No último ano, contudo, comecei a perceber que não devia perder mais tempo com critérios demasiado restritos sobre o que constitui uma fotografia interessante. Comecei a alargar os "critérios" e a publicar mais da minha fotografia de rua e natureza nas redes sociais e no Flickr. Não quero deixar o produto de tantas horas de trabalho esquecido numa gaveta. Podem não valer dinheiro, mas neste mundo tão ligado em que vivemos, pode ser que encontrem quem as aprecie da mesma forma que eu aprecio encontrar registos fantásticos de alguns dos meus locais e temas preferidos.

Partilho algumas das preocupações com a Inteligência Artificial ao nível da forma como estes sistemas são treinados, mas não é por achar que existe algo fundamentalmente errado em alimentar uma máquina com uma torre de babel de textos e imagens. O que me preocupa realmente é que esta apropriação indiscriminada dos conteúdos gerados por anónimos engrosse ainda mais as fileiras dos céticos e eternos desconfiados em relação à internet como espaço de troca de ideias. Se já me desanimava a quantidade de pessoas que vejo a estragarem as suas fotografias com marcas d'água, agora angustia-me pensar na quantidade de gente que se sente tão ciosa da sua criatividade que não ousa sequer partilhá-la por aqui, na remota possibilidade de alguém se apropriar dela (como se a apropriação manchasse mais o autor do que o plagiador).

No fundo, resume-se a isto: neste mundo virtual, existirá melhor sensação do que saber que algo que criámos encontrou eco nas memórias, experiências e gostos de outra pessoa? Acredito que não e que o maior roubo de que podemos ser vítimas por aqui, no que toca a estas questões em torno dos direitos de autor, é mesmo ser privados dessa abertura à possibilidade do encontro com o outro através da partilha sem complexos. Pode vir daí tanta coisa boa, caramba.

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