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horizonte artificial

ideias e achados.

13 anos a olhar o horizonte

Andei a espreitar o arquivo há uns tempos e apercebi-me que o blog estava quase a fazer anos e casar números: 13 anos no dia 13 de abril. É o meu projeto em linha de maior longevidade, agora que penso nisso, e acho isso espantoso porque cheguei a ter vários blogs antes de criar o horizonte artificial em 2008, e sei como é fácil deixar de nos identificarmos com uma ideia, um nome ou um certo registo na escrita. O que me fez aguentar (até aqui) o horizonte artificial? Algumas ideias dispersas:

  • ter enquadrado o blog, no nome e nos temas, à volta do reconhecimento de que tudo isto de que falo aqui (das flores aos livros e tudo pelo meio), é uma projeção minha, que me guia e também me ilude (nas várias aceções); por outras palavras, é um projeto de identidade em relação ao qual estou muito consciente e essa intenção explícita obriga-me a repensar e questionar todas as minhas intenções: porque quero falar deste tema? deste livro? desta situação? Não fui reler o blog todo (1115 posts, dá para acreditar?), mas tenho quase a certeza de que não me arrependo de nenhum deles. De certeza que reformularia algumas frases, fotografias (da época em que ainda não tinha a minha câmara atual), mas estou muito seguro de que nunca fui injusto com alguém ou alguma situação, uma das maiores preocupações que tenho ao escrever em público.
  • nunca me ter obrigado a uma regularidade ou frequência: tenho alguns anos no arquivo em que escrevi menos de 12 posts (menos do que uma vez por mês), algo que nunca me preocupou excessivamente. Tenho a noção de que tenho poucos leitores regulares (obrigado a quem estiver desse lado) e como super-leitor de blogs sei também uma pequena verdade: o nosso lugar de escrita na vida nunca muda. Há pessoas cuja escrita ou criatividade eu seguiria quaisquer que fossem as vezes que mudassem de endereço. Um template, um endereço, toda a moldura do blog pode mudar, desde que seja possível reconhecer o ponto de vista único daquela pessoa. Munido desta noção, e tendo adotado aqui um certo minimalismo intencional (nos temas que abordo, nas coisas que conto sobre mim mesmo, no próprio template, etc), resta pouco para onde ir ou fugir. Isto é, pouco mudaria, se tivesse de escolher outro endereço, outra forma de falar das coisas que me interessam e estimulam.
  • e isso é algo que vou querer fazer sempre, onde quer que esteja, no que quer que trabalhe, falar das coisas que me estimulam e inspiram a tentar ser uma pessoa melhor todos os dias: é uma das poucas regras que tento não infringir neste diário; uma coisa, a meu ver, mal feita ou criada, não pode ser a faísca (um bocadinho pretensioso, eu sei) que dá origem a um texto neste blog; sim, claro, um reparo ou uma sugestão construtiva, vai passando aqui e ali, porque sou humano, e também acredito por vezes que sei melhor que os outros, mas se isto fosse apenas uma compilação das coisas que detesto, das opiniões precipitadas que formulo de vez em quando e das minhas pequenas invejas que tento não coçar, não seria algo no qual gostaria de me rever. A criatividade dos outros é a minha maior fonte de inspiração, pelo que este blog, como qualquer projeto meu, tem de refletir essa disponibilidade para ser impressionado (um dos traços da minha personalidade que mais treino com este blog), assim como a minha vontade de inspirar em outros novas ideias e formas de ver o mundo.
  • uso o blog como caderno, mas também como agenda, álbum de fotografia e arquivo. Ajuda a organizar ideias, interesses, viagens, etc.
  • escrever ao fim-de-semana ou em alturas em que estou afastado do trabalho: é cada vez mais raro escrever durante a semana, exceto em dias como este; custa-me muito olhar para blogs depois de passar um dia inteiro a olhar para blogs;
  • o nome do blog: continua a parecer-me novo e um bocadinho desajustado, como um sapato novo que ainda não se ajustou à forma do nosso pé e, por isso, ainda não parece exatamente nosso, para bem e para mal — e horizonte artificial ainda me parece ter muitos quilómetros para fazer até me soar esfarrapado;

A quem estiver desse lado, obrigado por lerem, comentarem e, mais importante, deslumbrarem-se juntamente comigo.

Uma ilha de Primavera

Vi há uns dias, por acaso, o filme "A colina das papoilas", de Goro Miyazaki, e fiquei rendido. É um filme de animação onde a imaginação, claro, pode dar voos maiores, mas é uma obra-prima na forma como idealiza e pinta a presença da Primavera na história central.

Apetece entrar em algumas das cenas, nem que seja para descer a abrir aquela colina de bicicleta. Ando com papoilas no pensamento desde então, apesar de continuar limitado ao meu bairro, que pouco ou nada tem em comum com o litoral japonês. O espanto pareceu mais sentido, portanto, quando regressava a casa, esta semana, por um caminho diferente, e dou de caras com o que me ocorre descrever como uma ilha de Primavera na cidade — uma pequena encosta recém-transformada em jardim, por iniciativa da junta de freguesia, cheio de papoilas (sobretudo encarnadas, mas também algumas nos tons rosa e laranja) e de uma espantosa diversidade de outras flores.

É mesmo um pequeno festival de flores, tornado mais especial por surgir assim no meio urbano (fica adjacente à Segunda Circular), numa altura em que sair da cidade ainda não parece ser possível. Quem ali passa dificilmente fica indiferente à pequena mancha vermelha de papoilas e já há sinais de ser um espaço estimado por quem mora à volta. As abelhas e os shutterbugs da freguesia, pelo menos, têm ali um motivo novo para ficarem fora de si.

Uma abelha a sondar uma papoila encarnada num jardim de Lisboa