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horizonte artificial

ideias e achados.

Fiquei a conhecer o Triptofano

Quando foi a última vez que abordaram um perfeito desconhecido na rua, para lhe dar os parabéns pelo blog? Pois é, eu também não. Mas aconteceu comigo, há uns dias, ao reconhecer o Triptofano na rua.

O Triptofano é um exemplo clássico de blog dos anos loucos da blogosfera, com uma frequência de atualização que já não se vê nos blogs desde os tempos da invasão do Iraque. A diferença é que se trata de um blog criado em 2017. Se tivesse de resumi-lo em 30 segundos diria que é uma espécie de Zomato em formato blog, com uma pitada de Revista Saúda e Casal Mistério (na versão gay). O sentido de humor, aliado à linguagem clínica de farmacêutico e aplicado à crítica de restaurantes faz dele um dos blogs mais divertidos e originais das minhas leituras diárias.

Na era das fake news e dos influenciadores, precisamos de mais gente assim, com piada, conhecimento e curiosidade pelo mundo, a lançar-se na escrita e a dizer-nos algumas verdades (a começar pelo sítio onde se pode comer a melhor pizza vegetariana de Lisboa).

910 metros de atrevimento

A coisa mais digna de nota desta semana foi, sem qualquer dúvida, o documentário Free Solo, de Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, sobre o alpinista Alex Honnold e o feito a que se propôs em junho de 2017: fazer a primeira escalada livre (ou seja, apenas com as suas mãos e pés, sem ferramentas e cordas de segurança) da fachada do El Capitan, a famosa parede de granito do Parque Nacional de Yosemite, nos EUA, com 910 metros de altura. O documentário foi descrito assim no NYT (e a razão que me fez ir à sua procura):

"The film is a drug. It causes your pupils to dilate, your palms to sweat, and your mind to boggle. Even as you know that Honnold is going to make it to the top, you can’t believe what you’re seeing."

- Bret Stephens, em Alex Honnold, a soul free in 'Free Solo'

Passou no National Geographic, em março, mas se conseguirem apanhá-lo algures, não hesitem. Quando parece que vivemos num mundo em que já foi tudo feito e inventado, vem um tipo que olha para uma parede com milhões de anos e pensa que pode fazer algo novo pela primeira vez, haja atrevimento e, neste caso, uma dose invulgar de indiferença à morte.

Por fim, o que são 910 metros? Como qualquer pessoa nascida na era de Hollywood, tinha uma referência cinematográfica do El Capitan, mas foi só ao ver este documentário que me apercebi que não tinha ideia da sua verdadeira escala. Sem estar fisicamente lá, só percebemos a enormidade da coisa (e do desafio que é captá-la em filme), até vermos um plano aproximado do Alex a escalar a parede, filmado a partir de um ponto de observação no chão, e a câmara começar a fazer zoom out para mostrar o seu progresso. A escala é tão absurda que o recuo do zoom, dada a distância, não chega para mostrar o El Capitan na totalidade. Os realizadores tiveram de recorrer a uma animação em computador para abrir por inteiro o plano sobre o gigante de granito, que nem nos nossos olhos de vidro parece caber.