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horizonte artificial

ideias e achados.

Dez livros de 2018

Lord Jim, de Joseph Conrad
Conrad tornou-se nos últimos anos, à medida que vou lendo mais da sua obra, um dos meus autores preferidos, apesar da arrogância que pressinto em alguns momentos da sua escrita. Não encontrei ninguém, até agora, que rivalize com o poder descritivo de Conrad. "Lord Jim" é mais um exemplo acabado do que é possível fazer com esse poder.

 

Viver com os outros, de Isabel da Nóbrega
Um exercício de leitura de mentes entre um grupo de amigos e conhecidos reunidos para jantar e socializar num apartamento lisboeta na década 60. Parte da diversão (ou desafio) deste livro também passa por ser feito quase exclusivamente de diálogos (alguns deles interiores), sem atribuição explícita a esta ou aquela personagem. Não sabia quem era Isabel da Nóbrega até ler este ano um artigo sobre a sua obra, mas o que li suscitou a minha curiosidade. Não me arrependi de ter dado a oportunidade.

 

Humans of New York: Stories, de Brandon Stanton
Já conhecia o Humans da internet e, mesmo assim, não contava gostar tanto deste livro. Cada um de nós tem uma história única para contar, com a qual podemos aprender, rir, chorar e crescer. E é fascinante que baste a um tipo com carisma e uma câmara parar desconhecidos na rua para vermos isso tão claramente.

 

Não respire, de Pedro Rolo Duarte
Já falei deste livro aqui no blog e continuo a pensar nele de vez em quando, sobretudo naquela frase do Pedro sobre o tanto que falta para fazer. Não há tempo e energia a perder.

 

Pão de açúcar, de Afonso Reis Cabral
É um livro que a cada capítulo fica mais perto de um desfecho terrível que, de início, me parecia errado ser apropriado pela ficção. O que é que a ficção pode acrescentar ao que aconteceu à Gisberta? Ou o risco pode mesmo ser o de subtrair algo? Terminada a leitura, pareceu-me que acrescenta alguma humanidade à história da Gisberta e também à daqueles miúdos. Mísero consolo, talvez. Mas já é qualquer coisa para quem não quer acreditar que tudo se perdeu naquele poço.

 

A Cultura Mundo, de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy
Mais um livro de que falei aqui no blog e que recomendo a qualquer pessoa que procure uma moldura para enquadrar e pensar o tempo em que vivemos.

 

O Homem do Castelo Alto, de Philip K. Dick
Uma surpresa e o ponto de partida para descobrir a obra de Philip K. Dick, que me parece ter sido um autor invulgar a vários níveis.

 

Call me by your name, de André Aciman
Uma leitura que soube a uma escapadinha de 5 dias pela Itália. Tem a combinação perfeita de horas de sol, refeições ao ar livre e passeios de bicicleta por aldeias italianas. Além de ser uma bela história do primeiro amor (e do mais difícil).

 

Os Filósofos e o Amor, de Aude Lancelin
Por falar em amor, um apanhado muito por alto, mas interessante, das várias formas como esse sentimento foi pensado e explicado ao longo da história. Na falta de um manual para amar, é um belo substituto.

 

Olhando o sofrimento dos outros, de Susan Sontag
Se o livro fosse meu, teria voltado para a estante quase todo sublinhado. Sontag não se demora em contemplações, é muito direta a fazer ligações e a partir para hipóteses de sentido. Como fotógrafo amador e consumidor de notícias é um livro que me parece obrigatório para pensar o lugar privilegiado que ocupamos de observadores da tragédia do nosso tempo e mundo.

Feliz Natal, amigos

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É aquela altura do ano em que apetece chamar amigos a toda a gente, mesmo aqueles que não o foram, mesmo aqueles a quem não o fomos. Que bom que é assim. Espero que tenhamos todos tempo e coragem para tentarmos fazer melhor.

Uma fotografia de 2018

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O ano passado iniciei aqui uma rubrica no blog que consiste em escolher a minha fotografia preferida do ano (a que escolhi em 2017 está aqui). É a desculpa perfeita para abrir a pasta com as fotografias do ano e maravilhar-me com a  aleatoriedade das minhas voltas pela cidade e não só. Há fotografias que irradiam o calor do verão, outras que me fazem recordar o tempo passado em pastelarias.

E depois há fotografias que quase esqueci de ter feito e que me surpreendem como se tivessem sido feitas por outra pessoa. É o caso da fotografia acima. Foi tirada ali no fim de janeiro e gosto de tudo nela. O que parece o resultado de uma escolha intencional, o foco nas mãos dadas, é na realidade o produto de um acidente resultante da pressa com que tirei a fotografia. Gosto especialmente que seja difícil perceber bem o que está a acontecer: o rapaz está a ser puxado (um "vem daí") ou a apoiar a rapariga no skate?

Gosto de pensar que pode ser as duas coisas e de que estamos a ser puxados para a frente quando nos apoiamos uns aos outros.