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horizonte artificial

ideias e achados.

Uma Europa sem aviões

Nada como um vulcão islandês para nos fazer sonhar com outros mundos.

Na BBC, o filósofo Alain de Botton imagina um futuro sem aviões:

 

Everything would, of course, go very slowly. It would take two days to reach Rome, a month before one finally sailed exultantly into Sydney harbour. And yet there would be benefits tied up in this languor.

Those who had known the age of planes would recall the confusion they had felt upon arriving in Mumbai or Rio, Auckland or Montego Bay, only hours after leaving home, their slight sickness and bewilderment lending credence to the old Arabic saying that the soul invariably travels at the speed of a camel.

 

Por coincidência, na semana passada, antes da crise aérea começar, a Slate publicou alguns excertos de um livro escrito por um dos seus colaboradores, "Grounded: A Down to Earth Journey Around the World", que relata a sua viagem à volta do mundo recorrendo apenas a meios de transporte terrestres: atravessar o Atlântico a bordo de um cargueiro, explorar a Europa de comboio, percorrer o deserto australiano de automóvel, etc. O avião foi o único meio de transporte proibido. Pelo que li, parece ser um livro de viagens divertido, cheio de episódios curiosos que nunca aconteceriam a 10km de altitude na cabina de um avião:

As a result, when people think about travel these days they think purely of destinations. They barely give a nod to the actual ... traveling. The problem with this isn't just that we lose out on the pleasures of trains, ships, bicycles, and all those other terrific modes of rationally paced, ground-level transport. I think we also dim our experience of the destinations themselves. We've forgotten the benefit of surface travel: It forces you to feel, deep in your bones, the distance you've covered; and it gradually eases you into a new context that exists not just outside your body, but also inside your head.

Eyjafjallajokull

Um fenónemo natural, o espaço aéreo europeu fechado, milhares de passageiros presos em terra, chefes de governo retidos e, a pairar sobre tudo, incerteza e expectativa. De algum modo, cabe aqui bem um excerto de "A Jangada de Pedra" (que ainda estou a ler):

"Mãe amorosa, a Europa afligiu-se com a sorte das suas terras extremas, a ocidente. Por toda a cordilheira pirenaica estalavam os granitos, multiplicavam-se as fendas, outras estradas apareceram cortadas, outros rios, regatos e torrentes mergulharam a fundo, para o invisível. Sobre os cumes cobertos de neve, vistos do ar, abria-se uma linha negra e rápida, como um rastilho de pólvora, para onde a neve escorregava, e desaparecia, com um rumor branco de pequena avalancha. Os helicópteros iam e vinham sem descanso, observavam os picos e os vales, abarrotados de peritos e especialistas de tudo quanto parecesse ser de alguma utilidade, geólogos, esses por direito próprio, apesar de agora lhes estar vedado o trabalho de campo, sismólogos, perplexos, porque a terra teimava em manter-se firme, sem um estremecimento, ao menos uma vibração, e também vulcanólogos, secretamente esperançados, não obstante estar o céu limpo, despejado de fumos e fogos, perfeito e liso azul de Agosto, o rastilho de pólvora não passou de comparação, é um perigo tomá-las à letra, esta e outras, se antes não aprendemos a estar prevenidos. Não podia a força humana nada a favor duma cordilheira que se abria como uma romã, sem dor aparente, e apenas, quem somos nós para o saber, porque amadurecera e chegara o seu tempo. Somente quarenta e oito horas depois de Pedro Orce ter ido dizer à televisão o que sabemos, não era mais possível, do Atlântico ao Mediterrâneo, atravessar a fronteira a pé ou em veículos terrestres."

Será que não podemos ter José Saramago a fazer a crónica dos acontecimentos à volta do Eyjafjallajokull?

Deserto

Sigo a Charlotte Gonzalez há anos no flickr, não sei muito sobre ela, só que as suas fotografias são incríveis. Ela encontra-se a viajar com a família pelo Médio Oriente e há alguns dias deixou esta sequência no seu blog, de um dia passado no deserto em Omã. A fotografia do céu nocturno arrasou-me. Parece mais uma imagem da autoria do Hubble, a flutuar no espaço, do que de uma objectiva apontada ao céu a partir do solo. Faz-me perceber que já não olho para cima longe de uma cidade há demasiado tempo.

iPad

Basta esta imagem para me fazer desejar ter um iPad. A ideia de poder segurar o New York Times nas mãos é interessante, tendo em conta que em Portugal não temos a versão em papel, mas poder interagir com o jornal, como a crítica da Xeni Jardin, no boing boing, sugere que é o grande potencial deste aparelho?  Isso sim espicaça a minha cobiça.


Maybe the most exciting thing about iPad is the apps that aren't here yet. The book-film-game hybrid someone will bust out in a year, redefining the experience of each, and suggesting some new nouns and verbs in the process. Or an augmented reality lens from NASA that lets you hold the thing up to the sky and pinpoint where the ISS is, next to what constellation, read the names and see the faces of the crew members, check how those fuel cells are holding up.

I like it a lot. But it's the things I never knew it made possible — to be revealed or not in the coming months — that will determine whether I love it.

 

Não vos faz vibrar por dentro o exemplo que ela dá da estação espacial internacional? A ideia de que o iPad vem de algum modo suprir uma necessidade que não sabíamos que tínhamos pode muito bem ser mais do que hype.

 

Acho engraçado que a Apple tenha usado "Under the dome" para exemplificar a compra de livros na loja virtual do iPad (o facto da Apple aparecer várias vezes referida ao longo do livro é capaz de ter ajudado). Não trocaria a experiência de ler a versão de um quilo e meio (!) pela do iPad, mas tudo nesta geringonça faz-me querer um.