Pedro Rolo Duarte
Ontem acabei de ler uma pequena história de Julio Cortázar, chamada "Aí mas onde, como". É uma expressão incerta mas perfeita para descrever aquela zona onde "os nossos mortos" vivem. E eles vivem, porque nós os lembramos e continuamos a pensar neles e na forma como se cruzaram connosco. E, em alguns casos, a lê-los.
Hoje recebemos a surpreendente e triste notícia da morte de Pedro Rolo Duarte, que fiquei a conhecer em 2007 por intermédio da Jonas, e a quem ajudei a montar o seu excelente blog no SAPO. A partir daí, nunca trocámos mais de dois ou três curtos e-mails por ano, sempre em resposta a alguma dúvida ou pedido de ajuda relativa ao blog, mas foi sempre impecável comigo, sem qualquer tipo de afetação ou arrogância. Em agosto de 2016, propus-lhe, assim do nada, renovar o design do seu blog, e aceitou, sem condições nem entraves. Receber "carta branca" de um senhor como o Pedro Rolo Duarte foi, para mim, um motivo de orgulho.
E fiquei muito orgulhoso do resultado final, sobretudo por achar que o novo layout, aquele que hoje continua visível e que o próprio descreveu como mais "depurado", fazia justiça à sua sobriedade e ao seu apurado sentido para encontrar o interessante no detalhe e no quotidiano. E porque, aqui entre nós, sempre o achei uma versão mais crescida de mim próprio (jornalista, Pedro no nome, Duarte também, Diário de Notícias e, claro, o interesse pelo mundo dos blogs, que é, lá no fundo, o interesse pela observação e leitura dos outros).
Vou sentir a falta dessa identificação com alguém que sabia expressar-se tão bem (ao ponto de o ter citado neste blog várias vezes) e de quem me tornei leitor regular. Os meus sentimentos aos amigos e à família.
"Sei que estás vivo aí onde estás, numa terra que é esta terra e não uma esfera astral ou um limbo abominável". - Julio Cortázar