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horizonte artificial

ideias e achados.

O que leste?

O texto não está grande coisa (escrever é para aí décima quinta natureza para mim), mas depois de uma leitura voraz, a minha "crítica" de "Under the dome" está aqui, num novo blog sobre livros criado com alguns amigos. Começa a ser um bocadinho overkill, esta tendência de criar blogs para críticas de tudo e mais alguma coisa, mas se servir para alguém seguir uma recomendação e passar um bom bocado com um livro, já é qualquer coisa. Continuo a achar que há recomendações de livros a menos na blogosfera, por isso estou a tentar fazer a minha parte.

 

O NYT de hoje traz um artigo curioso que toca de leve no assunto: na era dos leitores electrónicos (Kindle, iPad, etc), como é que se avalia um livro pela capa se não existe capa? No metro, na praia, nos bancos de jardim, como é que saciamos a nossa curiosidade sobre o que as outras pessoas andam a ler se os leitores electrónicos não nos permitem espreitar a capa (perguntar parece estar fora de questão para o Times)? O "problema" não é para ser levado demasiado a sério, claro, mas coloca algumas questões interessantes sobre os nossos hábitos de leitura e o futuro do livro (na versão pesada e electrónica).

Nenhum livro é uma ilha

Ontem comecei a ler "A Jangada de Pedra", o livro tirado completamente ao acaso da prateleira há alguns dias. Ainda não passei da página 30, mas se aquela fenda que está a crescer entre a Espanha e a França for alguma indicação, eu diria que a Península Ibérica está prestes a entrar à deriva no Atlântico, cortada do resto do continente europeu. Onde é que eu ando a ler algo parecido?

Dois escritores, a mesma curiosidade destrutiva capaz de separar cidades e mover continentes com a facilidade de quem se pergunta "e se?".

Debaixo do feitiço de um livro

Ando a ler a última obra de Stephen King, "Under the dome" (algo como "Debaixo da cúpula", embora torça para que o tradutor português se sinta mais inspirado no momento de traduzir o título), um peso pesado com 1074 páginas que dou por mim a não querer que chegue ao fim.

 

O livro conta a história de Chester's Mill, uma pequena população na costa leste dos EUA, que de um momento para o outro vê-se isolada do mundo por um campo de forças invisível em forma de cúpula. Resumido deste modo não parece grande espingarda, admito isso, mas o que acendeu a minha imaginação foi ver a ilustração da sobrecapa do livro (na edição norte-americana):

 

Fizeram mesmo um óptimo trabalho com a ilustração (ampliar). Não se deve avaliar um livro pela capa blablabla, mas esta suscitou a minha curiosidade pelo que tratei de encomendá-lo sem precisar de saber mais nada.

 

No outro dia, já depois de ter pegado no livro e de não conseguir largá-lo, reparei na queijeira que temos na cozinha e tornou-se translúcida a inspiração para o livro. O que não reduz em nada a sua originalidade, pelo contrário. Supondo que a ideia surgiu mesmo dessa forma, é um feito valente, colocar aquilo que é basicamente uma queijeira de vidro gigante sobre uma cidade e ver o que acontece ao longo de mil páginas.

 

É difícil pôr o dedo no género exacto do livro, mas está ali entre o "horror fantástico" e o policial, sem deixar de ir buscar ideias e referências a outros sítios. A primeira influência que me ocorre, talvez por ser tão actual, é a de "Lost" (um dos personagens da série televisiva chega a ser mencionado de passagem), na forma como isola a acção e os personagens do resto do mundo e os envolve numa luta pelo poder, novamente com um herói relutante à frente dos "bons" da fita. Dá-me a ideia de que King não se teria importado nada em ter surgido com a ideia para "Lost" (não que a série não deva muito ao universo literário de Stephen King).

 

Além disto, voam referências a figuras da cultura popular: Anderson Cooper, o pivô da CNN que se tornou numa espécie de estafeta não-oficial das mais recentes catástrofes naturais no planeta, Barack Obama, Sarah Palin (!), Gregory House (também conhecido como Dr House), entre outros. É muito raro ter o luxo de ler um livro de ficção escrito tão em cima do momento, ao ponto de parecer que foi acabado de escrever ontem, por alguém que aprecia as mesmas séries televisivas e marcas de computador (Apple, claro). Se há alguém capaz de juntar terror, ficção científica e uns "snacks" da cultura popular dominante, e ainda proporcionar uma leitura absorvente, é Stephen King.

 

Ainda vou a meio do livro (comecei no fim-de-semana passado, o que diz muito do meu ritmo insaciável), mas sinto-me completamente apanhado pela história. É aquele tipo de livro que depois de nos aterrar nas mãos já não conseguimos largar.

 

A única coisa que me dá que pensar ao olhar para o calhamaço é o número de árvores que foi preciso derrubar para imprimir mil páginas de texto que provavelmente não volto a ler.

 

Ainda assim, lembro-me sempre deste twitte do Frank Chimero, sobre a sensação única que é ler um livro "verdadeiro":

 

"Finishing a book. One of the best feelings. The left hand gets heavier, the right hand lighter."

 

A mão esquerda fica mais pesada, a direita mais leve, e o torcicolo mais desconfortável.

A voz de Roger Ebert


 


Um vídeo incrível que tinha de partilhar aqui, do momento em que Roger Ebert, um dos mais acarinhados críticos de cinema nos EUA, ouviu pela primeira vez a sua voz sintetizada. Ebert perdeu a fala há alguns anos na sequência de uma batalha com o cancro, mas nunca deixou de escrever sobre a sua paixão, o cinema. Um grupo de programadores escoceses pegou em horas de gravações da voz de Ebert e utilizou-as para criar um programa que converte as palavras que vai teclando na sua original e familiar voz. O resultado, surpreendente e exibido no programa da Oprah, está à vista. (via videogum)


 


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